Não sei se Lacerda Machado é o único amigo que António Costa tem em cargos públicos. Mas se não é, parece. É que de todas as pessoas que na qualidade de primeiro-ministro Costa convidou, nomeou, ou sugeriu para o governo ou para cargos ligados ao Estado, Lacerda é o único cujo nome surge invariavelmente acrescido de “amigo do primeiro-ministro”. Foi assim quando pela primeira vez a maioria dos portugueses ouviu falar do advogado Lacerda Machado e continua a ser agora quando ele é indicado para vogal da administração da TAP. Não sendo expectável que António Costa não tenha outros amigos em funções públicas, porque será que só Lacerda é identificado como tal? Porque se desvalorizam as suas qualificações e experiência?
Passos Coelho veio expressar publicamente aquilo que implicitamente os jornalistas deixam subentender quando desvalorizam Lacerda identificando-o como “o amigo de Costa”. Disse Passos, no estilo erudito que lhe conhecemos, que a nomeação de Lacerda para a TAP é “uma pouca vergonha”. (É bom de ver que o que perturba Passos é a “reversão” da privatização da TAP e não quem trabalhou nela).
Pelos vistos, os jornalistas partilham a opinião de Passos Coelho já que insistem em privilegiar a “amizade” entre Costa e Lacerda em detrimento da experiência deste, para mais sendo Lacerda, dos nomes indicados por Costa para a TAP, o único com experiência no ramo dos transportes aéreos. Por exemplo, os jornalistas podiam ter anunciado assim a nomeação de Miguel Frasquilho: “Costa nomeia amigo de Passos para presidir à TAP“.
Não se percebe também porque razão o enfoque na amizade não se aplicou no governo anterior. Por exemplo, teríamos tido: “Passos nomeia amiga e ex-professora Maria Luís Albuquerque para ministra das Finanças” ou “Passos nomeia amigo Relvas para coordenador do governo”. Ou, quem sabe, será que Passos nem amigos tem?
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