Estamos a um passo da votação, na Assembleia da República, do CETA, o acordo de comércio e Investimento UE/Canadá. Um acordo que, envolto em pezinhos de lã e em muitas centenas de páginas, vem pôr em causa os nossos direitos, alguns dos quais alcançados à custa de longas batalhas, como é o caso dos direitos laborais.
Acordo de comércio e Investimento UE/Canadá
Um acordo que vem exponenciar o absurdo que é empestar o ambiente para transportar carne de suíno que produzimos localmente em suficiente quantidade e melhor qualidade. E que vem, acima de tudo, entregar direitos especiais e superiores aos portentos financeiros multinacionais. E como nos é vendido este peixe podre? Como uma oportunidade para crescer, como uma oportunidade – aliás incontornável, sem alternativa – para ganharmos pontos na competição a nível global.
Aldrabam-nos e tratam-nos como fantoches: decidem que queremos sempre comprar e comprar sempre mais barato, mas ocultam e não têm em conta no preço as externalidades ambientais, nem as miseráveis condições a que condenam os animais criados, nem os salários precários dos empregados, tudo aquilo que, se fosse considerado, tornaria os custos incomportáveis; decidem que comprar barato está hierarquicamente acima de preservar o planeta; decidem que os monstros financeiros precisam de pagar impostos irrisórios e deixam-lhes abertas todas as portas para a fuga ao fisco. Formulam acordos cujas consequências não divulgam e consideram que não percebemos nada nem queremos perceber. Não nos respondem, quando nós, cidadãos, lhes pedimos explicações, porque estão no poleiro, por nós lá colocados.
E nós? Nós consumimos sem perguntar, ocupamo-nos da nossa vidinha e sabemos lá do resto, dessas coisas complicadas dos acordos comerciais. E agora com o proteccionismo do Trump, não queremos ser metidos no mesmo saco, preferimos calarmo-nos. E entregamo-nos, quais cordeiros, aos algozes que servem os polvos multinacionais.
O governo português e os deputados do PS vão ajoelhar-se e aprovar o CETA e a nós, sem notarmos, vão obrigar-nos a derrearmo-nos e nem vamos perceber que estamos menos nós próprios, menos livres. Este comércio a que chamam livre, mas só o é para os investidores mais potentes do planeta. Esses, vão passar a participar na feitura de leis que nos vão reger, ainda antes destas serem debatidas nos parlamentos; chamam-lhes comissões regulatórias.
CETA visto por Bernie Sanders
Bernie Sanders, o senador dos EUA candidato a presidente, explica com a maior simplicidade:
Quem escreve os acordos comerciais? São as pessoas que trabalham? São os pequenos agricultores ou as pessoas que trabalham em fábricas? Não. São os executivos de grandes corporações, as empresas farmacêuticas e a Wall Street. Então, sim, vamos fazer comércio, mas vamos fazer um comércio que ajude as pessoas que trabalham de ambos os lados e não apenas a Wall Street e as corporações multinacionais”
Um sonhador. O PS é realista e a nós não nos resta senão sê-lo também.
Realistas, manipulados, explorados, carne para canhão nesta imperial guerra neoliberal.
Let’s Do Trade that Helps Working People
Who writes trade agreements? Is it working people? Is it small farmers or people working in factories? No. It’s the executives of major corporations, the drug companies and Wall Street. So yes, let’s do trade, but let’s do trade that helps working people on both sides and not just Wall Street and the multinational corporations.
Publicado por U.S. Senator Bernie Sanders em Domingo, 11 de Junho de 2017
Ana Moreno, Activista da Plataforma Não ao Tratado Transatlântico