A cobertura da tragédia de Pedrógão mostrou uma vez mais o melhor e o pior do jornalismo. Muitos escreveram já sobre a exploração feita pelas televisões repetindo exaustivamente as imagens da dor e da devastação, os repórteres exaustos nos locais do fogo, eles também vítimas da voragem das audiências, a entrevistarem sobreviventes acabados de perder filhos, companheiros, amigos. As palavras estavam gastas mas eles, os repórteres no terreno, não podiam parar de perguntar, estavam lá para isso porque os “directos” são assim, tudo serve para encher o tempo …
E como se não bastasse a desgraça das vítimas do fogo também o jornalismo viveu momentos debaixo de fogo com a notícia da “queda” de um canadair que não caíu e que por não ter caído, como foi noticiado, deixou desiludidos e revoltados os repórteres que esperavam que o canadair tivesse mesmo caído.
Mas não se ficou por aqui o mau momento do jornalismo: o diário espanhol El Mundo deu guarida a um jornalista-fantasma de nome “sebastião pereira” que viu no fogo de Pedrógão o diabo que havia de destruir o governo de António Costa. Os jornais portugueses que deram eco às notícias do El Mundo nem duvidaram do estilo de um “sebastião” que ninguém conhecia nem ouvira falar, nem o seu “colega” do El Mundo correspondente em Lisboa…
E houve os jornalistas que faziam muitas perguntas e queriam respostas na hora e os que querendo também perguntar acham que a um jornalista não basta lançar perguntas para o ar.
Mas entre as perguntas que ficaram por fazer e as que ainda não têm resposta, e falando de jornalistas, há que perguntar também porque não fizeram antes a si mesmos as perguntas que agora querem ver respondidas? Onde está a investigação jornalística ao tema dos fogos florestais fora dos períodos em que não há fogos? Onde os trabalhos aprofundados sobre a ordenação do território? Porque só agora repararam que as árvores da EN 236 estavam demasiado próximas da beira da estrada? E porque só agora se sabe que o SIRESP não serve? Onde está o escrutínio do cumprimento da legislação existente e das razões pelas quais a que está no Parlamento aguarda há meses ser discutida e aprovada?
Porque perguntam os jornalistas só quando as tragédias acontecem? Não são eles os “watchdogs” da democracia?
O jornalismo foi também uma vítima do fogo de Pedrógão. Não “ardeu” completamente porque também houve muito bom jornalismo em reportagens serenas, sobretudo na imprensa, e em imagens marcantes que não precisam de palavras para nos fazer sentir a dor e o desespero dos que perderam tudo. Mas o jornalismo saíu “chamuscado” e não apenas por culpa do canadair que não caíu ou do sebastião que não existiu.
Felizmente, o bom jornalismo sobreviveu!
Exclusivo Tornado / VAI E VEM