A frase do título deste post é do moderador do Fórum, jornalista Manuel Acácio, e a conferência de líderes a que ele se refere destinava-se a discutir o modelo da Comissão Técnica Independente que vai investigar o incêndio de Pedrógão.
Cito a frase porque ela é um bom exemplo do enquadramento em que decorre a discussão política e mediática do incêndio de Pedrógão. Ela mostra a prioridade que os políticos em geral e os deputados em particular estão a dar à sua presença nos media, produzindo declarações sucessivas para marcação da agenda jornalística. Mostra também como os media necessitam das palavras dos políticos e lhes dão, por sua vez, prioridade sobre a reflexão e o debate das causas e das consequências mais profundas da tragédia.
O exemplo do fogo de Pedrógão revela também as contradições do discurso da oposição, patente, por exemplo, nas palavras do deputado do PSD Abreu Amorim e do líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, que no mesmo Fórum da TSF acusaram o governo de permitir “uma “confusão pegada” e “um passa-culpas” por causa dos relatórios contraditórios da Protecção Civil, dos Bombeiros, do SIRESP e da GNR. O PSD e o CDS dizem agora que esses relatórios (que antes pediam) não deviam ser divulgados por serem parcelares. O CDS pergunta “onde pára o governo.?” certamente à espera que o governo mandasse calar a Protecção Civil, o SIRESP e a GNR.
Outros dirigentes políticos e jornalistas dizem que o Governo não deve fazer perguntas aos serviços mas sim dar respostas e a direita criticou o que chamou de “protagonismo do Governo” em Pedrógão nos primeiros dias da tragédia.
Os cidadãos mais atentos percebem como tudo isto é contraditório e facilmente desmontável. De facto, como queriam o PSD e o CDS que o Governo não divulgasse os relatórios “parcelares” dos organismos intervenientes nos fogos, perante a formidável pressão dos media, da direita (Assunção Cristas fez 25 perguntas) e dos comentadores que queriam saber tudo imediatamente?. Não leram os editoriais inflamados com listas intermináveis de perguntas ? Se o governo não divulgasse os relatórios seria acusado de os esconder e de omitir informação. Agora alguns dos que fizeram perguntas perceberam que não era o tempo das perguntas e criticam o excesso de respostas.
Por outro lado, se o primeiro-ministro, a ministra Constança e o secretário de Estado não estivessem no terreno nos primeiros dias da tragédia seriam acusados de “não darem a cara” e as perguntas habituais “onde está o governo?” não deixariam de surgir.
A luta por um lugar no palco dos media atingiu dimensões grotescas com a infeliz declaração de Passos Coelho a falar de “suicídios”. Passos acabou por ele próprio ser vítima do seu candidato à autarquia de Pedrógão e actual provedor da Santa Casa que lhe quis prestar um “servicinho”, dando-lhe em primeira-mão uma “notícia” que era afinal um boato. Ambos pediram depois desculpa mas Passos apressou-se a manter o seu informador como candidato do PSD apesar de ele mostrar que não tem o bom senso necessário para a função.
Volto ao início deste post: o deputado que interrompeu a conferência de líderes sobre os incêndios para falar na TSF, a quem o moderador do Fórum agradeceu a interrupção, perdeu parte da discussão na conferência de líderes mas o que ele não quis perder foi a presença na rádio. Aí, onde o País podia ouvi-lo, aproveitou o tempo para atacar o governo. Na conferência de líderes, à porta fechada, só os seus pares o ouviam. Parece que nessa conferência reinou grande consenso. Ainda bem.
É assim a política. Mas não toda a política nem todos os políticos.
Exclusivo Tornado / VAI E VEM