A Ponte dos Espiões
Spielberg e Hanks de novo juntos, agora num imbróglio de relações internacionais em plena Guerra Fria.
Steven Spielberg em estilo John Le Carré evoca o período da Guerra Fria, numa narrativa que decorre entre 1957 e 1962, em plena histeria do comunismo e da ameaça nuclear. Isto numa altura em que os Estados Unidos e a União Soviética se auscultavam mutuamente num singular jogo de espionagem. De novo com o fiável Tom Hanks, um candidato perfeito para defender a bandeira americana, a ilustrar um episódio real de troca de espiões, a partir de um guião original do britânico Matt Charman, um argumentista cuja única referência digna de nota é a assinatura do guião do drama de guerra romântico Suite Francesa, embora aqui coadjuvado com ao manos Joel e Ethan Coen.
Spielberg acrescenta assim mais um elemento ao seu pequeno lote de filmes com o cenário de guerra em pano de fundo. Apesar de ser um candidato natural às nomeações aos Óscares, esta intriga internacional acaba por funcionar mais como exercício de estilo do que propriamente como um clássico que surpreenda e emocione.
O filme evidencia um rigoroso registo de época e abre logo com uma brilhante sequência em que se percebe a guerra surda movida aos espiões, bem como a consequente sofisticação destes em ludibriar os homens da CIA. Um deles é Rudolf Abel, numa incrível prestação de Mark Rylance, um actor de teatro numa inevitável rota de uma nomeação ao Óscar secundário, no papel do espião russo nascido no Reino Unido Rudolf Abel. Apesar de condenado por espionagem – e a pena seria a capital -, é-lhe concedida uma defesa justa por parte do experiente advogado perito em seguros, James B. Donovan (Hanks), suficiente para lhe garantir apenas uma pena de prisão perpétua, de modo a que pudesse vir a servir de ‘moeda de troca’, caso um espião americano viesse a cair nas mãos dos ‘comunas’. O que vem a acontecer quando um avião espião é abatido em solo soviético sendo capturado o piloto Gary Powers (Austin Stowell), que não seguira as instruções de usar um alfinete letal em caso de captura. Como se isso não bastasse, um economista em trabalho de tese da Alemanha, é apanhado do lado errado do muro controlado pelas tropas orientais.
Este imbróglio motivará a intervenção do advogado, agora investido em funções diplomáticas ao mais alto nível. Ainda por cima constipado, em virtude de lhe ter sido surripiado o casaco de pele por rufias quando ia conferenciar com um adido da embaixada russa, e com explicações a dar à esposa (Amy Ryan), que julgava que tinha ido apenas a Londres. Assim se gera um novelo complexo de negociações destinadas a operar uma troca de prisioneiros na ponte Glienecke, a separar o rio e as duas Alemanhas, entre Berlim e Potsdam, e devidamente guardada por snipers de ambos os lados.
Diante desta trama, é natural recordar alguns clássicos ambientados no ambiente tenso da Guerra Fria que alimentou um subgénero, desde O Enviado da Manchúria (1962), de John Frankenheimer, A Cortina Rasgada (1966), de Hitchcock, ou sobretudo O Terceiro Homem (1949), de Carol Reed. Doravante, A Ponte dos Espiões passará a fazer parte desse lote. O único senão é que o que sobra em envolvência histórica e mise em scène, acaba por faltar numa narrativa de estrutura linear, insuficiente para encher as medidas de quem vibrou com alguns dos clássicos citados.
A nossa Opinião (de * a *****)
A Ponte dos Espiões ***
O Leão da Estrela
Depois do mega-sucesso de O Pátio das Cantigas, eis que em menos de seis meses Leonel Vieira prepara-se para lançar mais um blockbuster lusitano com O Leão da Estrela, versão 2015. Assim e em vez do embate futebolístico que todos conhecemos do original de Arthur Duarte, entre Porto e Sporting, teremos antes um ‘clássico’ entre os temíveis Leões de Alcochete e os vermelhos alentejanos do Inferno de Barrancos. Desde já um aviso à navegação: se resistir a uma ida à bola devidamente regada com o previsível humor malandreco, vá-se preparando para algumas situações de humor revisteiro destinadas a arrancar gargalhadas de um público habituado a seguir o trabalho destes actores nas diferentes sitcoms de prime time. De resto, são vários os actores que partilham de ambas as equipas dos dois filmes de Leonel Vieira.
Uma coisa é certa, mesmo que O Leão da Estrela não venha a alcançar os 600 mil espectadores de O Pátio das Cantigas – marca que o tornou no filme português que mais espectadores levou às salas de cinema -, não deixará de ser um enorme sucesso de bilheteira. Agora, o que não se pode (não deve) é usar a expressão “sucesso do cinema português” para falar de um produto que, deliberadamente, nunca deixou de ser televisão e cujo público alvo continua a ser os espectadores de telenovelas.
Como sempre, Miguel Guilherme continua a ser a âncora do projecto e um alter-ego de António Silva, aqui a defender o contabilista Anastácio que tudo faz para arranjar um dos derradeiros bilhetes para assistir ao seu ‘clássico’ da bola. Mas em vez de se servir da limusina conduzida por Artur Agostinho, como no original, arruma a mulher (Manuela Couto) e as filhas (Sara Matos e Ana Varela) num táxi emprestado a um mecânico (Aldo Lima) namorado de uma sobrinha a viver em sua casa (Dânia Neto), seguindo para o Alentejo para ficar num monte propriedade de amigo betinho que uma das filhas conheceu no Facebook (André Nunes). É aí que conheceremos uma Alexandra Lencastre muito tia que acabará a beberricar gin com a mulher de Anastácio (Manuela Couto), servido por uma criada-cantora (Dânia Neto em versão pin-up), enquanto que o Anastácio e o Sr. Barata (José Raposo) ficaram a tratar de negócios. Na bola, já se vê.
O estilo de O Leão segue a mesma métrica de O Pátio, com a exploração de um tipo de comédia fácil, onde não faltam sequer gags de ironia barata, reverenciando de forma caricatural o clássico de Arthur Duarte, sugerindo “parece uma comédia de 1947”, ou com recurso à brejeirice no já famoso gag do “coiso” entre Dânia e Aldo, mas também atirando o chavão irónico, ainda que certeiro, “na tv só dá porcaria”.
Pois é, salvo melhor qualificação, dir-se-ia que este O Leão da Estrela situa-se algures entre um episódio longo de Bem-Vindos a Beirais intervalado por um cheirinho de Liga dos Últimos. Agora ficamos ansiosamente à espera do Natal de 2016 para ver a conclusão da trilogia com A Canção de Lisboa.
A nossa Opinião (de * a *****)
O Leão da Estrela *