E aí, como vai mano? Esta foi a pergunta que Joanilson fez ao colega, conhecido desde a infância, quando se encontraram por acaso em um ruela na periferia onde moravam. O papo foi rápido, o conhecido precisava “fazer um serviço” e seguiu seu caminho.
Na mesma noite, Joanilson soube que seu primo havia sido assassinado em um acerto de conta de gangues. “Esse tipo de coisa é comum na periferia mais pobre e a gente só sabe daquilo nos guetos, a polícia não toma conhecimento”.
Joanilson ficou muito abalado, mais ainda quando o colega de infância confessou que ele havia matado o seu primo durante o tal serviço, encomendado. Então abraçou o amigo e chorou, arrependido. “Tudo bem, cara, eu não vou te julgar”, respondeu o garoto que já convivia há longa data com o sofrimento dos miseráveis.
Mais dois dias e o assassino, menor, resolveu se entregar. Prova de caráter, alguma dúvida? Foi à delegacia e, de lá, encaminhado à Fundação Casa, onde ficou preso.
Joanilson tornou-se policial militar, chegou a se corresponder com o colega durante anos até seus caminhos se descruzarem. Soube muito depois que o jovem fora solto, mas escolhera a marginalidade e tinha se tornado mesmo um bandido.
Perguntei: “Um garoto que assassinou outro, foi condenado, consegue trabalho, tem alguma oportunidade de mudar de vida?”
Não! É a única resposta possível, penso.
Joanilson é um rapaz diferente, poeta, sensível, pensa um segundo e responde: “Não!”
A história é real, os nomes foram alterados. Quem a contou foi o próprio Joanilson, poeta que frequenta saraus da periferia, para uma plateia de jovens “guerreiros” na vida e da arte. Longe de mim doutrinar ou dar lição de moral se nem defendo os moralistas, mas sei que a vida não traz respostas. Ao contrário, em cada momento, nos confronta com escolhas. Privilegio o humanitarismo, temos que nos olhar como iguais e ao mesmo tempo tentar entender as diferenças. Tarefa dificílima; é preciso dizer “não” aos preconceitos e juízos conservadores que nos serviram desde o berço.
A autora escreve em Português do Brasil