Portugal não está preparado para receber refugiados
Administrativamente, não foram criadas em Portugal infraestruturas nem rotinas para processar rapidamente uma grande quantidade de processos de asilo, como noutros países, nomeadamente a Suécia, que todos os anos recebe uma grande quantidade de refugiados de diferentes países. Antes da queda da União Soviética eram sobretudo refugiados dos países de leste, além dos originários das ditaduras portuguesa, espanhola, grega e de vários países da américa latina. Agora, são sobretudo do Médio Oriente. Sem as devidas infraestruturas de acolhimento,quanto mais tempo levar o processar o pedido de asilo mais difícil se torna a assimilação, e mais problemas gera.
Em Portugal não vale a pena gabarmos-nos de ter tido como refugiados os reis da Espanha e da Itália e o Calouste Gulbenkian. Durante a Segunda Guerra Mundial passaram muitos refugiados por Portugal a caminho da América, mas tinham dinheiro e pagavam a estadia e a viagem. Na realidade, a última vez que Portugal acolheu refugiados em grande quantidade foi quando os Templários foram perseguidos no século XIV.
A Europa foi rápida a apoiar as guerras do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Ucrânia e da Síria, gerando uma tragédia com vários países destruídos e muitos milhões de pessoas a fugir para salvar a vida, mas agora recusa-se a ajudá-las. Os ataques de Paris levaram muita gente a dizer que a Europa agora está em guerra. A Europa está em guerra há mais de dez anos, a diferença é que as bombas, até agora, iam caindo longe da Europa. Quando o resultado dessas bombas nos bate à porta entramos em negação, recusamos-nos a aceitar a culpa e fechamos-nos numa xenofobia exagerada.
Isto é incompreensível em Portugal, um país que espalhou emigrantes e exilados por todas as partes do mundo. Não há ninguém em Portugal que não tenha ou tenha tido algum familiar que esteve exilado. Por minha parte, estou muito agradecido por a Suécia me ter acolhido quando em 1972 desertei da Guerra Colonial.
Actualmente, segundo a Autoridade Sueca da Imigração, até Outubro deram entrada na Suécia 112.264 pedidos de asilo. A previsão era que até ao fim do ano chegassem entre 170.000 e 190.000 refugiados. Agora, a Suécia fechou as fronteiras. Controlam mesmo a identidade de todas as pessoas que passam na ponte que liga a Suécia à Dinamarca. Os refugiados apanhados são devolvidos à Dinamarca, que os não quer, de modo que o total pode vir a ser menor. Já foram inclusive presos alguns dinamarqueses que tentaram ajudar refugiados a entrar na Suécia.
ROMEU BATISTA
Residente em Eslov (Suécia), desde 1972