Cavaco Silva foi à Universidade de Verão do PSD dissertar sobre o “pio” e ele próprio piou que se fartou. Ao fim de todo este tempo, em que se remeteu ao silêncio e à meditação, era suposto que Cavaco viesse com ideias frescas. Porém, Cavaco recuperou o ressabiamento e o azedume que caracterizaram os anos em que foi Presidente e disparou contra o Governo e os seus parceiros, contra os jornalistas e até Marcelo apanhou por tabela com remoques indirectos à verborreia frenética da maioria dos políticos dos nossos dias embora não digam nada de relevante.
Na preleção aos jovens do seu partido, Cavaco recuperou os fantasmas que o afligiram no final do seu mandato e o levaram a resistir até ao fim a nomear António Costa, com medo daqueles que segundo ele queriam “realizar a revolução socialista” mas que afinal acabaram por “perder o pio ou fingem apenas que piam”.
Cavaco não disfarçou o desprezo com que encara a função política, como se ele não tivesse sido tudo o que um político pode ser de mais relevante – ministro, primeiro-ministro e presidente da República.
As suas críticas “à promiscuidade no relacionamento com jornalistas”, a quem recusa “confessar-se”, só podem ser vistas com perplexidade ou não tivesse sido ele o protagonista do maior escândalo provocado precisamente pela promiscuidade entre o seu gabinete e o jornal Público, como foi o célebre caso das “escutas a Belém“.
O PS respondeu com ironia ao “pio” de Cavaco, dizendo que ele “devia ter piado mais quando era Presidente”. Mas o problema de Cavaco-ex-Presidente é igual ao problema de Cavaco-Presidente: uma grande arrogância, um enorme desprezo pelos políticos e uma notória falta de consideração pelos jornalistas que ele considera agirem em função de quem lhes passa notícias.
Exclusivo Tornado / VAI E VEM