Na Universidade de Verão do PSD Cavaco Silva não se cansou de elogiar o presidente francês Emmanuel Macron, elogiando o seu estilo e a sua actuação por oposição ao que ele chamou, (por comparação implícita com Marcelo) a “verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias”. No elogio a Macron, Cavaco invocou a relação deste com a imprensa e o distanciamento face aos jornalistas que Macron assumiu após ter sido eleito Presidente da República, o que aliás lhe tem merecido fortes críticas.
Ora, o que Cavaco Silva não disse foi que o Macron-Presidente cujas atitudes para com a imprensa ele tanto aprecia tem vindo a perder o apoio dos franceses que lhe deram a maioria absoluta após uma campanha eleitoral em que o Macron-candidato agiu para com a imprensa de maneira bem diferente.
Bastaria que Cavaco tivesse visto o documentário da Netflix, “Behind The Rise” (ainda está a tempo) sobre a campanha presidencial de Macron para verificar que afinal o Macron que os franceses elegeram com uma estrondosa maioria fazia o que Cavaco condena nos outros “líderes europeus”.
Com Macron “não há promiscuidade no relacionamento com jornalistas”, disse Cavaco aos jovens do PSD e seria impossível Macron “telefonar a um jornalista para lhe dar uma notícia”. Ora, no documentário da Netflix pode ver-se Macron a telefonar à France Press para lhe dar o “exclusivo” da aliança proposta por François Bayrou, líder do Movimento Democrático, que se juntou ao movimento En Marche de Macron.
Noutro momento do documentário Macron aconselha os membros da sua equipa a serem cordiais e afáveis com os jornalistas, o contrário do distanciamento que Cavaco lhe atribui.
Também ao contrário de Cavaco, no documentário da Netflix, quando a campanha presidencial francesa aqueceu, com a extrema-direita apupando Macron e a sua equipa invocou instruções da segurança para que não se expusesse demasiado, Macron ordenou-lhes que não fizessem caso do que a segurança dizia e que era preciso “correr riscos”. Levou com um ovo na cara mas riu-se do caso e não se deixou atemorizar. Precisamente o oposto de Cavaco que quer enquanto candidato quer depois como primeiro-ministro e presidente surgia sempre bem guardado.
O Macron que Cavaco omite durante a campanha presidencial reagiu aos boatos (de homossexualidade) sem acrimónia, enfrentando-os com naturalidade “se fosse homossexual, dizia, isso hoje é natural“, disse aos jornalistas, ao contrário de Cavaco que na sua campanha presidencial se voltou contra tudo e todos quando surgiram as questões relacionadas com o BPN.
Cada um tem os seus sonhos e Cavaco Silva pode querer rever-se em Macron. Pena é que escolha como arquétipo do seu ideal de Presidente precisamente o lado de Macron que lhe está a fazer perder o apoio da grande maioria dos franceses.
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