As eleições autárquicas vieram desfazer o mito de que as campanhas eleitorais mudaram muito nos últimos anos graças sobretudo às redes sociais e ao afastamento dos cidadãos da política e dos políticos. Ora, sendo certo que as redes sociais alteraram substancialmente o panorama mediático alargando a participação dos cidadãos na discussão pública, já o desinteresse pela política e pelos políticos ficou por provar, uma vez que, por um lado, a abstenção desceu e, por outro, o número de candidaturas independentes subiu.
Nesta campanha, como em anteriores, os candidatos valeram pela imagem que as televisões deles transmitiram, ganhando aqueles e aquelas que mais e melhor exploraram as características desse meio. Assunção Cristas ganhou em variáveis essenciais para se vencer num contexto em que a substância das propostas conta menos que a aparência das coisas.
Cristas foi demagógica, como bem salientou Pacheco Pereira, com uma campanha despesista que ninguém analisou. Foi populista quando saiu para a estrada a colocar propaganda nos pára-brisas dos automóveis e quando no dia seguinte à eleição, chamou as televisões para a verem subir escadotes para retirar cartazes. Cristas soube ainda engrossar a voz contra Medina e foi mole com a candidata rival do PSD, Teresa Leal Coelho, para não espantar o seu tradicional parceiro.
Cristas foi capaz de transformar a perda de votos a nível nacional numa enorme vitória do CDS. Sem dúvida que foi mérito seu e demérito da candidata do PSD, o CDS ter passado para segundo lugar em Lisboa. Foi uma vitória simbólica mas o CDS não deixou de continuar a ser um partido ultra-minoritário a nível nacional.
O êxito de Cristas em Lisboa pode contudo ser-lhe fatal se continuar, como parece ser o caso, o caminho demagógico e populista. De facto, como bem notou Manuela Ferreira Leite, a proposta de isentar de IRS as horas extraordinárias como antes as 20 novas estações de Metro em Lisboa, denunciam a pouca consistência do seu programa político e a leviandade das suas propostas. Podem enganar-se alguns durante algum tempo mas não se podem enganar todos durante todo o tempo.
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