Poema de João de Almeida Santos
para um ROSTO (inédito) de Filipa Antunes
OLHAR…
QUE ME DIZES,
Tão frontal,
Olhar inquieto,
D’espanto…
………………..
É chamamento,
Sinal?
No silêncio
Do meu canto
A tua voz
É murmúrio,
Melodia
Seminal…
E são belos
Os teus olhos,
Sabem-me
Sempre
A mar,
São ondas
Deste meu pranto,
São lágrimas
A derramar…
Não é azul
Sua cor
Mas de sol
Que m’ilumina
Olhas p’ra mim,
Meu amor,
Quando navego
À bolina
E intenso
É teu calor…
És sereia,
Vou-te ouvindo
Em sinfonia
De cor,
Mas é um canto
Sofrido
Na pauta
Da minha dor…
Cabelos
Desalinhados,
Sopra o vento
Sobre ti
Num intenso
Resfolgar…
………….
E eu triste
Fico longe
Como a montanha
Do mar…
Que procuram
Os teus olhos?
Tua boca
Balbucia
Palavras
Que em silêncio
Me resistem
Dia-a-dia
Quando nelas
Leio a pergunta
Que nunca,
Ousando,
Faria…
Dizes, sim,
Que não me
Sentes?
Dizes que
Do poema
Não és?
De saudades
Hei-de morrer
Se não vierem
Marés
Onde te sinta
Crescer…
Olhos
Húmidos
Que fascinam,
Tua boca
Que seduz,
Teus cabelos
Desalinham
E eu,
Poeta d’outono,
Na mais pura
Contraluz…
Olhas-me,
Pois,
Inquieta,
Sem estar
À tua frente,
Numa dorida
Distância
Que no silêncio
Se sente…
……………..
Mas por isso
Eu te digo
Que o teu olhar
Nunca me mente…
Que me dizem
Os teus olhos?
Ilustração: ROSTO (inédito) de Filipa Antunes (Outubro, 2017. Grafite e Lápis Aguarelável)