Estive a ver o debate parlamentar na Assembleia da República sobre a questão dos fogos. Devo dizer que as intervenções do palhaço Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, e da deputada Assunção Cristas, sobretudo desta, me enojou.
O Hugo caceteiro quer que o Governo se demita. Diz que é “em nome das vítimas”, e que o Governo já não tem legitimidade para governar e, se não se quer demitir, deve apresentar uma moção de confiança que lhe reforce (ou retire o apoio). Pois bem, ó meu pateta, se é em nome de vítimas, vamos a contas.
Quantos morreram devido aos cortes de salários e pensões, de perda dos empregos, de casas e famílias destruídas, de suicídios por desespero, de mortes prematuras por os serviços de saúde estarem à míngua, devido às políticas de ladroagem aos pobres, empreendidas pelo governo pafioso? Quantos choraram lágrimas de raiva, quantos abandonaram o país e caíram nas ruas da amargura? A direita fala das cem vítimas dos incêndios, mas como consequência das políticas de saque da direita não terá havido muito mais mortes? Não terá havido muito mais desgraças e desespero? Perante isto, só me apeteceu vomitar na cara do rapazola.
Depois veio a Cristas. Outro nojo, lamento dizê-lo. Ela que mais patrocinou o descalabro da floresta com a sua liberalização do eucalipto, ela que cortou nas verbas destinadas ao ordenamento e à defesa das florestas, ela que fez parte de um governo que até acabou com a isenção das taxas moderadoras na saúde de que os bombeiros gozavam – como bem lembrou Jerónimo de Sousa durante o debate parlamentar -, veio pedir responsabilidades ao Governo e a António Costa. Um perfeito exercício farisaico, um despudor que – apesar de o assunto ser grave e sério -, é de um ridículo burlesco e de mau gosto.
Estranhamente, não vi a direita questionar nunca quais as causas dos incêndios, as causas estruturais determinadas por anos de incúria e de más opções de sucessivos governos apoiados pelos partidos da direita. Não acha a Dona Cristas que também deveria PEDIR DESCULPAS ao país? Costa pediu desculpa. Cristas, Coelho, o rapazola Hugo e toda a bancada pafiosa, esses, quais justiceiros de pacotilha – tendo em conta do seu perfil de salafrários -, brindaram-nos com uma farsa vergonhosa, colocando os mortos e as vítimas ao serviço da sua gula pelo poder.
Também não vi a direita questionar a hipotética causalidade terrorista que poderá estar por detrás da vaga de fogos. Há especialistas que avançam que, as causas naturais, só por si não podem explicar, quer a intensidade dos fogos, quer a sua simultaneidade temporal. Pediu a direita que se investigue? Pediu a direita responsabilidades ao Governo por nada ter ainda avançado no esclarecimento cabal dessas dúvidas? Não. A direita não quer que não haja fogos. O fogo, os mortos, o alarme social, a destruição do país, são a sua praia.
Não digo que os archotes dos incendiários tenham sido autografados directamente pela Dona Cristas, ou pela caneta do Passos. Mas que devem estar a esfregar as mãos de contentamento pelo facto de as chamas lhes permitirem brindar o governo com uma chuva de críticas e dificuldades de percurso, disso não tenho qualquer dúvida. De tal forma que até estou com pena do Passos: soubesse ele da dimensão desta tragédia e seguramente não teria anunciado que abandonará a liderança do PSD. Ou estarei errado, e tudo isto aconteceu, de facto, porque Passos se demitiu? Responda quem souber.