Constança Urbano de Sousa foi arrasada pela direita, por jornalistas e comentadores, acusada de incompetência e de fragilidade quando perante a tragédia de Pedrógão chorou no terreno e se emocionou na comissão parlamentar ao dizer a deputados agressivos e mal educados, que aquele dia de Junho tinha sido o pior da sua vida.A Constança não foi permitido chorar nem estar triste porque isso era fragilidade. Só nos machos as lágrimas e a emoção são qualidades. Numa mulher são defeito. Mas, contradição reveladora: os mesmos que queriam Constança durona e fria queriam Costa chorão e meiguinho. Esquecem-se, esses, que nem sempre quem chora é quem mais sofre e sente o sofrimento próprio e alheio. E que há quem chore de alegria.
Constança não possuía os truques que o discurso político consagrou, não falava por soundbites e parecia sempre humilde e compreensiva mesmo quando a criticavam. Podia lá ser, uma uma mulher com aquele ar frágil e sofrido a tutelar homens de botas, armas e capacetes…. António Costa quando a escolheu para o cargo esqueceu-se de que o conhecimento, o rigor e a seriedade valem pouco face ao “peso político” (seja lá isso o que for) ou ao traquejo parlamentar, e ao verbo fácil e sempre pronto para soltar o dixote que se impõe a cada momento.
Hoje, aqueles que fustigaram Constança porque era frágil vêm elogiá-la porque se foi embora. E Costa que a susteve, como devia, é criticado não já por não chorar (ontem comoveu-se) mas por finalmente ter percebido que a percepção é mais importante que a reallidade.
Que continue a governar com rigor, racionalidade e justiça, deixando a paixão e a emoção para quem se sentir mais vocacionado para essas demonstrações é o que se espera de um primeiro-ministro. E quando voltar a escolher uma mulher para ministra, sujeite-a antes ao teste da “fragilidade” e informe-a de que na política uma mulher não chora. Isso é para machos!
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