Num púlpito mal iluminado, farda escura e austera, cabelo repuxado em rabo-de-cavalo, rosto sério e compenetrado, sem maquilhagem nem adereços, voz clara e discurso fluente, Patrícia Gaspar, porta-voz da Autoridade para a Protecção Civil (ANPC) foi o rosto das notícias sobre os incêndios que durante estes meses ocuparam em permanência os écrans das televisões, os sons das rádios e as páginas dos jornais. Várias vezes ao dia, a qualquer hora, ali estava Patrícia Gaspar, sempre igual a si mesma, como se não precisasse de dormir nem comer nem por ela passassem as emoções que os repórteres repetidamente mostravam: pessoas a chorar, a fugirem do fumo sufocante e das chamas que devoravam tudo o que encontravam pelo caminho.
Nada parecia perturbar o rigor do discurso de Patrícia Gaspar nem a polémica que antecedeu os seus briefings com acusações ao governo e à ANPC (que ela ali representava) de instaurarem a lei da rolha quando a ANPC decidiu acabar com as declarações dos responsáveis que no terreno passavam grande parte do tempo a falar com os jornalistas em vez de se concentrarem no combate aos fogos. A Comissão Técnica Independente viria a confirmar a justeza da decisão de acabar com os porta-vozes locais, ao registar a perturbação causada pela presença nos postos de comando, de jornalistas e de políticos. Em boa hora a ANPC escolheu Patrícia Gaspar para sua porta-voz.
Patrícia Gaspar assumiu com profissionalismo o papel difícil de porta-voz, sem se desviar um milímetro das funções que lhe foram cometidas, pronta a responder a todas as perguntas sem recear recusar aquelas que não cabiam nas suas funções.
Patrícia Gaspar impôs-se a todos quantos a vêem e ouvem pela seriedade e rigor com que cumpre o seu papel. Não precisou dos adereços usados para aparecer na TV. Prendeu a nossa atenção apenas com o seu rosto austero, a sua voz segura e o rigor da mensagem.
Da derrocada que abalou a Protecção Civil, Patrícia Gaspar sai ilesa e prestigiada.
Exclusivo Tornado / VAI E VEM