Poema inédito de Rui Miguel Duarte
The Scream 1893 – Edvard Munch
O Grito
O que faz abrir a boca
é a passagem de tudo ao nada,
o vento extinguiu-se,
nem um volume de brisa
para o fulvo do céu,
como as nuvens de Júpiter
aí foi o Munch buscar os contornos
para os turbilhões azuis das distâncias
revolvidas nas águasé então que o Grito se estende,
desenha as mãos, molda o rosto
e modula o corpo,
domina a terra e abala o céu,
é um ultra-som baixo
que penetra nos olhos e lhes extrai,
verdastros, os globos,
liquefeitos na sopa do horrornele cabe a doca de Oslo,
a mortalha parda do fiorde,
os transeuntes na madeira da ponte
em fuga de Outono caído
nele entra o universo todo
nado morto na cabeça,só não entra a palavra,
uma apenas,
que tão vasto silêncio ela sufoca