Poema de João de Almeida Santos
para um Rosto de Filipa Antunes
CHORAR…
Choras,
Meu amor,
Para me resgatar
Com o sal
Humedecido
Do teu olhar?
Choras
Neste espaço
Sideral
Onde vagamos
À procura
De um incerto
Destino
Marcado
Pelos deuses
A fogo,
Como sinal?
Enxugas a alma
Com gotas de água
Salgada
Nos sulcos
Invisíveis
Desse teu rosto
Ausente,
Denso e triste,
Lágrimas
Que correm,
Transparentes,
Para a foz
Desse teu rio
No nosso mar?
Ah!, pudesse eu
Temperar
A minha alma
E a minha vida
Com o teu sal,
Gota a gota,
Como fonte
Inesgotável
Onde saciar
Esta sede
Infindável
De ti!
Mas não,
Não caem gotas
E eu choro
Dentro de mim
Com lágrimas
Secas,
Sem o teu sal,
Olhar enxuto,
Melancolia,
Doce tristeza,
Alma vazia
Sempre à espera
De ti,
Em cada dia,
Sem saber
Se te perdi
Nos meus poemas
Ou nas cores
Da tua
Fantasia!
Sofro o silêncio,
Mas ouço
O teu eco,
Perco-te
Se te encontro,
Quero-te
Sem te ter
E te perder,
Leio-te
A alma
Nos teus riscos
E sinto-te
Bater
De mansinho
Dentro de mim,
Em cada
Amanhecer…
Choro por ti
Sim,
Meu amor,
Sem que me vejas…
…………………….
Mas se te encontro
E me sorris
Logo meus olhos
Brilham
Como espelho
Da alma,
Desde o fundo
Mais profundo
Da minha raiz!
O meu choro,
É cântico
Conventual
Porque sei
Que tu me ouves
Em surdina
No silêncio
Sofrido
Desse recanto
Onde aninhas
A tua alma…
Em doce pranto!
Se não chorar
Eu petrifico,
Perco o sextante
Da vida
E nela caminho
Meio perdido
Como se fosse
Uma constante
Despedida…
E assim
Eu entristeço
Sozinho
Sem uma ponta
De dó,
Como castigo
Ou dor de alma
De sem ti
Ficar tão só!
Porque choras,
Meu amor?
Ilustração: Rosto (inédito – em barra de grafite e aguarela) de Filipa Antunes (seis de Novembro de 2017)