Diário
Director

Independente
João de Sousa

Domingo, Novembro 24, 2024

Filipa Oliveira Antunes presente em Exposição Colectiva no Casino Estoril

João de Sousa
João de Sousa
Jornalista, Director do Jornal Tornado

Exposição Colectiva no Casino Estoril, patente na Galeria de Arte de 25 de Novembro a 10 de Janeiro. Segundo a organização esta “exposição é pelo número de trabalhos expostos e qualidade dos 31 artistas participantes, uma mostra representativa do estado da Arte em Portugal, nas modalidades de Pintura e de Escultura”.

Hoje, 25 de Novembro, às 17:00, a nossa colaboradora Filipa Oliveira Antunes expõe, em Exposição Colectiva, no XXXI Salão de Outono da Galeria de Arte do Casino do Estoril, um Tríptico, criado especialmente para este Evento.

Filipa Oliveira Antunes é arquitecta, doutorada em urbanismo e professora na Universidade Lusófona. Colabora no “Tornado” desde Fevereiro de 2017, regularmente, aos Domingos, em parceria com João de Almeida Santos, na publicação de poesia com ilustrações inéditas de sua autoria.

É, por isso, com alegria que damos notícia deste importante evento e da magnífica obra da nossa colaboradora, publicando-a, juntamente com o texto que João de Almeida Santos lhe dedica e que integra também a Exposição.

À autora, o Tornado deseja os maiores sucessos, conhecendo bem e apreciando o talento que vem demostrando cada Domingo nas páginas do nosso Jornal. Parabéns Filipa Oliveira Antunes!

O Tríptico”

Dimensões:

  • Cada elemento do tríptico: 60X60
  • Totalidade do tríptico: 180X60

Características técnicas:

  • Acrílico e verniz sobre tela

 

Um comentário sobre…

O TRÍPTICO

de Filipa Oliveira Antunes

Há muito que dialogo com a arte de Filipa Oliveira Antunes. Semana a semana. Quase sempre em linguagem poética. Com esses belíssimos rostos que saem das suas mãos como espelho da alma ou como desafio ao estro do poeta. Desafios estimulantes porque deles jorra beleza sempre impressiva que surpreende pela plasticidade imaginativa da autora. Num interminável repto a reinventar-se em rostos para poemas que espreitam, inquietos, à esquina, os seus riscos e as suas cores para depois desabarem neles como torrentes tumultuosas de rios em cheia. Mas, outras vezes, diálogos em prosa, como recentemente, em torno de um seu Pessoa, muito parecido no perfil identitário com o Bernardo Soares. Ou reflectindo, em ensaio, sobre o belo, o infinito e a linha elíptica. Um longo desafio dialogado, suscitado por uma afirmação de Johann Winckelmann (1717-1768), o fundador da história da arte, que teve como resposta textos e belíssimas ilustrações da autora. Agora veio este para descodificar uma sua magnífica obra, um desafio a leituras múltiplas em chave referencial e intertextual. De que se trata, pois, neste caso, numa obra criada, uma vez mais, como desafio a um contexto que se cruza, julgo, com a sua própria história pessoal?

Estamos perante um tríptico onde os elementos estruturantes convergem numa unidade expressiva intensa e coerente pela força explosiva da sua mancha cromática e pelo abraço elíptico envolvente, mas também pela semântica de um discurso estético que se propõe, ao mesmo tempo, como reflexivo e meta-sensorial. Uma explosão de cor, pela intensidade e aparente fragmentação provocada por riscos de luz, como fogo de artifício… é o que parece impor-se, como síntese, logo a um primeiro olhar. Mas as cores são parte integrante de uma exigente semântica da obra porque representam elementos referenciais que a autora propõe ao nosso dispositivo sensorial, sim, mas também cognitivo. São elementos que resultam, numa linguagem velada, da reinterpretação do espaço em que se inscreve, inspira e alimenta, gerando, ao mesmo tempo, uma interessante dialéctica intertextual no discurso estético.

Na verdade, trata-se da reconstrução conceptual de espaços diferenciados numa unidade imaginária que convoca múltiplas referências de contexto, repropondo-as em linguagem estético-expressiva e ancorando-as numa técnica apurada e numa intertextualidade que também evoca o melhor da história da arte. Cabe, pois, ao observador, com os seus recursos sensoriais, estilísticos e cognitivos, evoluir da impressão sensorial imediata para uma hermenêutica dos sinais inscritos, e quase velados, na mancha cromática. Quase um esforço analítico.

O tríptico está construído em camadas semânticas que reforçam e enriquecem a sua solidez estética. E algum realismo que ainda se possa oferecer, como código de leitura, a um olhar menos apurado e intelectualmente exigente é ultrapassado por uma hermenêutica do contexto mais atenta, minuciosa e empenhada que evolua para um diálogo com os fragmentos da semântica da obra quer em chave referencial que em chave intertextual, com a história da arte. Por exemplo, pode-se evocar uma obra de Paula Rego (“A dança”, de 1988) a partir desta praia em meia-lua, ao luar, e desta saia-dançante, em ocre, do terceiro elemento do tríptico! Ou evocar a arte de Pollock neste extenso leque de pavão que anuncia, como passadeira de honra, a casa das histórias, ali mesmo ao lado! Tudo numa intensa unidade expressiva que integra os seus elementos sem lhes anular a autonomia e a identidade. Refiro-me aos três elementos do tríptico.

Alicerçado num poderoso esforço analítico de construção figurativa, conceptualmente composta e, depois, cromaticamente transfigurada, este tríptico ganha ainda uma dimensão anímica inspirada nesse quase imperceptível murmúrio feminino que aflora, como suave beijo, à praia-meia-lua, parecendo evocar o tímido regresso da mulher que, um dia, por irresistível beleza, fora raptada pelos deuses marinhos, quem sabe se por Poseidôn. Tudo é muito velado e subtil neste tríptico exuberante que solicita leituras in progress por camadas de significado, recobertas, como seu manto, por mil cores em explosão. Com o surpreendente resultado de nos oferecer também uma intertextualidade que a devolve à história da arte e aos seus mais fascinantes protagonistas. Na verdade, quem pisar o chão deste espaço onde se inscreve o tríptico poderá certamente descodificar-lhe a semântica em traço e cor de sofisticada e sedutora textura. Mas quem o visitar com os códigos da história da arte não deixará de ver nele marcas intertextuais que aludem a Vieira da Silva, Kandinsky ou, sobretudo, Pollock (por exemplo, em “Gótico”, de 1944). Por isso, a beleza formal, mas explosiva, deste tríptico é enriquecida pela abundância semântica que timidamente, sob forma velada, exibe, elevando-se àquela que, para mim, talvez seja a verdadeira essência da obra de arte: a impossibilidade de a capturar e esgotar na mera mecânica do dispositivo sensorial, porque ela imporá sempre, teimosamente, um progressivo e infindável processo de desvelamento. É aqui que reside a universalidade, a intemporalidade e a beleza da obra de arte. E ouso até dizer que, neste tríptico, ao impressivo registo sensorial induzido pela sua explosiva intensidade cromática corresponde um outro desafio hermenêutico, induzido pela sua rica e complexa carga semântica. O que o torna uma obra não só complexa, mas também completa e muito bela. Para mim, esta obra tem a densidade e a beleza próprias das obras que resistem à voracidade do tempo.

por João de Almeida Santos

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -