Poema de João de Almeida Santos
para um Rosto (inédito) de Filipa Oliveira Antunes
Leva-me contigo…
Quase esqueci
O negro
Profundo
Dos teus olhos
De tanto os ver
Por fora,
Cerrados
E pintados
De tristeza…
E agora
Este manto
Verde,
Esta cor
Exuberante,
Mas fria,
Este azul
Que te acaricia
E enovela
A alma quente
Na suave
Melancolia
Do teu rosto
Adormecido…
É por isso
Que eu te sonho
Por dentro,
A cores,
Vermelho
Intenso,
Rubores,
Como sangue
Que fervilha
No teu peito,
Seiva
De liberdade
Numa ilha
Onde se respira
Saudade!
O teu olhar
Cerrado
É destino
Marcado
À procura
Do que o mundo
Tão sofrido
Te tem
Tristemente
Roubado!
Em sonho,
Procuras
Renovar-te,
Reconstruir-te
Sobre os escombros
De uma cidade
Perdida
Num tempo
Que não é teu…
E os deuses
São amigos,
Meu amor,
Inspiram-te
Na magia
Sedutora
Com que te
Pintas,
Expressiva,
Essa alma
De pintora,
Traços e cores
Que esfumam
Fronteiras,
As rugosas
Vielas da vida
Tão banais
E rotineiras…
Com eles
Voas
Por dentro
De ti
Para além
Dos agrestes
E estreitos
Sendeiros
Que te encolhem
A liberdade
Com ruínas
Do passado!
Vejo-te triste
Por fora,
Sim,
Mas adivinho-te
Quente
Por dentro,
A transbordar,
Ao rubro,
Em viagem
Ao centro
Do magma
Que te há-de
Alimentar
A tímida sede
Do desejo
Proibido,
Insinuado
A cores
No azul
Desse teu mar!
Que sonhas,
Pois,
Meu amor?
Deixa que
Entre
No teu mundo
Por uma nesga
Escondida
Da tua alma
E viaje contigo
Sob o verde
Luxuriante,
Mas triste,
Que te encobre,
Como véu,
O desejo de
Voar…
Deixa-me
Seguir
O luminoso
Caminho
Que se acende
Nos teus olhos
Negros
E profundos
Que tanto
Me cativam
E elevam
Aos céus!
Leva-me contigo,
Sim,
Meu amor…
………
Se não
Me levares…
……
Juro
Que pinto
A minha alma
De verde,
Me diluo
Na tristeza
Do teu rosto
E me escondo
Do mundo
No veludo
Macio
Da tua pele!
Leva-me contigo…
Ilustração: Rosto (inédito, a aguarela e caneta preta) de Filipa Oliveira Antunes (18 de Novembro de 2017)