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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

Joana Lopes

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(N. 1938)

Militante antifascista, teve assinalável intervenção como “católica progressista” durante a Ditadura. Actualmente é uma cidadã de causas, com persistente e intensa actividade cívica e política. Desenvolveu uma carreira científica de grande amplitude, afastando-se do papel reservado às mulheres no século XX. Doutorou-se em Filosofia e deu aulas na Faculdade de Letras de Lisboa, mas acabou por ser atraída pela Informática e, após especialização, exerceu a sua actividade profissional nesta área, durante a maior parte da vida activa. Foi engenheira de sistemas na IBM, directora e membro do Conselho Executivo da Companhia IBM Portuguesa e a primeira mulher a fazer parte da Comissão Executiva da Administração dessa empresa.

Actividade cívica e política desde cedo

Até ao fim da década de 60, participou activamente em múltiplas organizações e iniciativas dos chamados «católicos progressistas», ao mesmo tempo que se empenhava numa tentativa de renovação da Igreja Católica em Portugal. Goradas as expectativas criadas pelo Concílio Vaticano II, muitos padres e leigos portugueses, com grande intervenção cívica e no seio da Igreja, abandonam-na e Joana Lopes foi um deles.

Enfrentou a PIDE, a Censura, ajudou a fundar instituições culturais e cívicas, e participou em movimentos de Oposição contra o fascismo. Depois da Revolução e até à actualidade, tem-se destacado pelo seu envolvimento em actividades e iniciativas de cidadania e políticas. É autora do blogue Entre as Brumas da Memória, onde diariamente escreve e divulga textos de cariz político, quer sobre acontecimentos do tempo da ditadura e do período revolucionário, quer relativos a combates actuais.

Matemática, Filosofia e Informática

Joana Lopes nasceu em 11 de Outubro de 1938, em Lourenço Marques, cidade onde viveu até ao fim da instrução primária. Foi já em Lisboa que fez o ensino secundário, no colégio do Sagrado Coração de Maria. Frequentou depois, ainda em Lisboa, o primeiro ano da licenciatura em Matemática, mas iria optar pelo Instituto Superior de Filosofia da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, onde se licenciou e doutorou, em 1962, com uma tese sobre «La notion de probabilité selon Rudolf Carnap».

Regressada a Portugal, começou por dar aulas num embrião da futura Universidade Católica, até ingressar como docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Aí leccionou, entre 1965 e 1971, sobretudo Lógica, mas também Teoria de Conhecimento e outras cadeiras da licenciatura em Filosofia.

No fim da década de 60, nova viragem profissional: atraída por um curso de programação de computadores, que fizera por pura curiosidade, abandonou o ensino da Filosofia e, em 1970, acabou por entrar para a IBM, onde ficou vinte e cinco anos – primeiro como engenheira de sistemas, depois como directora (em vários níveis) e, finalmente, sendo a primeira mulher a fazer parte da Comissão Executiva da Administração da empresa. Em finais desse percurso, esteve três anos num Centro Internacional de Educação da IBM, em La Hulpe (Bélgica), como directora de um departamento.

Posteriormente, leccionou durante alguns anos em mestrados da Universidade Aberta e trabalhou como consultora «freelancer» no domínio das Tecnologias da Informação. Publicou então «Sistemas de Informação para a Gestão – Conceitos e Evolução», Universidade Aberta, 1997.

Influência católica

Com uma educação católica na infância, foi militante e dirigente de movimentos católicos desde a adolescência. No entanto, só em Lovaina “acordou para a política”, na sequência do processo de independência do Congo Belga, que acompanhou de perto, e pelo contacto pessoal com dirigentes do MPLA, então residentes em Paris (precisamente na altura em que a guerra colonial tinha início em Angola).

Regressada a Portugal em fins de 1962, mergulhou imediatamente no mundo dos chamados «católicos progressistas» e manteve, nesse espaço católico de cidadania, uma colaboração a vários níveis. Participou activamente no «Direito à Informação», publicação clandestina anticolonial lançada em 1963; foi membro fundador da Cooperativa Pragma (1964), encerrada pela PIDE três anos mais tarde; pertenceu ao Conselho de Redacção da revista «O Tempo e o Modo» e esteve ligada à Concilium, ambas da editora Moraes, e à criação dos Cadernos GEDOC (Grupos de Estudos e Intercâmbio de Documentação), 1969 – uma teia de instituições diversas em que se movia um conjunto de “católicos progressistas” que exerciam a oposição possível, tanto clandestina como legal.

Entre 1966 e 1968, integrou a Junta Central da Acção Católica (uma poderosa instituição que contava com mais de 100.000 filiados), empenhando-se no que foi uma tentativa de alguns leigos para fazerem vingar o seu «aggiornamento» no espírito do Concílio Vaticano II. A realidade iria mostrar-lhes que se tratava de uma perspectiva utópica, os conflitos com o cardeal Cerejeira foram aumentando e a tarefa não durou mais de dois anos. Estava-se, aliás, já em plena crise de descrença nas expectativas criadas pelo dito Concílio e em luta contra o compromisso dos bispos portugueses com a ditadura fascista. Assiste-se então a uma verdadeira debandada da Igreja, quer de (muitos) padres, quer de leigos (activíssimos), e Joana Lopes foi um deles.

Na PRAGMA. Sessão sobre Ecumenismo, Abril de 1966. Da esquerda para a direita: Nuno Teotónio Pereira, Mário Neves (da Igreja Presbiteriana), Joel Serrão, João Bénard da Costa, Joana Lopes e António Costa.

Em 1968-1969, foi vice-presidente do Centro Nacional de Cultura, num ano em que este enfrentou muitos problemas com a censura e com a PIDE, e em 1969, Joana Lopes participou na campanha da CDE para as legislativas.

Entretanto, mantivera contactos com exilados políticos portugueses na Bélgica e regressou várias vezes a Lovaina, acabando por colaborar com a LUAR e por escrever, episodicamente e sob pseudónimo, em duas revistas publicadas no estrangeiro – «Cadernos Socialistas» e «Perspectivas».

Militante e dirigente política

No início da década de 70, integrou um grupo semiclandestino a que pertenceram alguns advogados, que vieram mais tarde a fundar o MES, e outros, futuros militantes e dirigentes do PRP/BR. Foi recrutada para este partido e executou várias tarefas entre 1972 e 1974 (nomeadamente na função de «correio», levando recados e materiais, entre Portugal e o estrangeiro, já que, por motivos profissionais, saía com frequência do país).

Pertencia ao PRP quando se deu o 25 de Abril e foi nesse partido que conheceu o médico Orlando Lindim Ramos, um destacado antifascista, com quem viria a casar e de quem tem um filho.

No Verão de 1974, deixou o PRP e investiu-se totalmente no combate político que tinha lugar no âmbito da Comissão de Trabalhadores da IBM. Mais tarde, integrou os GDUP (Grupos Dinamizadores de Unidade Popular), durante a campanha para as primeiras eleições autárquicas, realizadas em 1976, figurando na lista que concorreu à Câmara Municipal de Lisboa. Desde essa altura, nunca mais teve qualquer filiação partidária.

Combate político permanente

Em 2007, decidiu resumir a experiência dos católicos progressistas, a cujo universo pertencera, e publicou «Entre as Brumas da Memória – Os Católicos Portugueses e a Ditadura», Editora Âmbar. Nesse ano, criou um blogue com o mesmo nome (Entre as Brumas da Memória), que mantém diariamente actualizado. Neste blogue, escreve e divulga, preferencialmente, textos de cariz político, com um peso significativo para os que se referem a partilha de memórias do tempo da ditadura e do período revolucionário que se seguiu, e também artigos ligados ao combate contra o austeritarismo.

Participou na campanha do referendo a favor da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez), integrada no «Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim».

Entre 2008 e 2010, pertenceu à direcção do Movimento «Não Apaguem a Memória».

Em 2011 foi fundadora da IAC (Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida), e membro da respectiva Comissão de Auditoria. Durante vários anos, dinamizou e assegurou a actualização do «site» da organização.

Em 2016, foi promotora da criação do «Movimento Cívico para a Despenalização da Morte Assistida».

Nos últimos anos, a sua actividade política tem-se traduzido também na participação activa em movimentos a favor de diversas causas pontuais, destacando-se na mobilização que promove através do seu blogue e das redes sociais. Tem-se envolvido em diversas acções e campanhas políticas dinamizadas por grupos constituídos «ad hoc», em que é significativo o seu carácter intergeracional.

Outubro de 1967. Começando por Helena Vaz da Silva, de costas em primeiro plano, e no sentido dos ponteiros do relógio: Duarte Nuno Simões, Ana Maria Bénard da Costa, Nuno Bragança, Teresa Martha, Joana Lopes, Maria Leonor Bragança, João Bénard da Costa, Liliane Simões, Alberto Vaz da Silva, Teresa e José Pedro Pinto Leite. Fotografa-se pouco neste tempo porque se vivia intensamente. Mas nos restaurantes (Churrasqueira do Campo Grande) os fotógrafos profissionais atacavam e tinham público garantido.
(CNC)
Foto: Hemeroteca Digital

Com José Manuel Galvão Teles, no dia 25 de Abril de 1974 (11 am), no Largo do Corpo Santo, quando ainda nada estava decidido. (Imagem de Micucha Galvão Teles, facultada por Joana Lopes).

No lançamento do seu livro «Entre as brumas da memória» (2007). Da esquerda para a direita: Pedro Tamen (autor do Prefácio), José Manuel Galvão Teles e Nuno Teotónio Pereira (que apresentaram o livro), Joana Lopes, Nelson de Matos (editor da Âmbar).

Greve Geral, 22.03.2012. Joana Lopes com Mariana Avelãs, Miguel Cardina e Rita Veloso.

No dia 25 de Abril de 2013, Joana Lopes com Diana Andringa, Carlos Antunes, Raimundo Narciso e José Manuel Correia Pinto.

Na concentração de apoio à Grécia, 22.06.2015.

 

Dados biográficos facultados por Joana Lopes.

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