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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

Ataque à UFMG: escalada autoritária precisa ser detida

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Assim como na ditadura militar, as universidades, ilhas de liberdade e pensamento crítico, entraram na linha de tiro deste novo regime autoritário instalado no Brasil, sob o tacão da Polícia Federal, do Ministério Publico e outros órgãos de controle que, a pretexto de combater a corrupção, violam direitos e garantias. Com uma tropa de 84 policiais, a PF deflagrou ontem (dia 6) uma operação contra dirigentes da UFMG, levando para depoimentos coercitivos o reitor Jaime Arturo Ramírez, a vice-reitora, Sandra Regina Almeida, além do ex-reitor Clélio Campolina e da ex-vice-reitora Heloisa Starling, coordenadora de conteúdo do projeto Memorial da Anistia.

Heloisa é uma das mais respeitadas historiadoras brasileiras, autora, com Lilian Shwarcz, do livro “Brasil, uma biografia”, entre outros trabalhos. Segundo a PF, TCU e CGU, organismos que também atuaram nas investigações que levaram ao suicídio, depois das humilhações sofridas, o ex-reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, teriam ocorrido desvios de R$ 4 milhões na execução do projeto.

Mas não teriam a CGU e o TCU outros meios, que não o da violência policial, para apurar eventuais problemas administrativos, dispondo como dispõem de legislação e instrumentos punitivos para tais casos? Às voltas com tantos casos de desvios de recursos em prefeituras e outros organismos que recebem verbas federais, porque neste a CGU e o TCU juntaram-se à PF para invadir uma universidade e humilhar seus dirigentes, num escândalo destinado a desmoralizar a instituição universitária?

Ninguém se engane. O objetivo desta operação é político e o alvo ainda não apontado são autoridades dos governos petistas. Pois foi no governo do ex-presidente Lula que a Comissão de Anistia aprovou a criação de um Memorial da Anistia, a ser executado pela UFMG em parceria com o Ministério da Justiça, que destinou R$ 19 milhões ao projeto. A exposição permanente ficaria no chamado Coleginho, cujo prédio depois mostrou-se inadequado ao objetivo, impondo-se a necessidade de construção de um prédio lateral para abrigar o acervo da Comissão de Anistia e a exposição de conteúdo multimídia sobre as vítimas da ditadura e o esforço de reparação moral e material empreendido pela Comissão desde sua criação por FHC em 2001. Os trabalhos vinham sendo executados, apesar deste percalço mas, com a deposição da ex-presidente Dilma e os cortes gerais de recursos, faltou dinheiro e o projeto parou. Até que hoje foi deflagrada a operação “Esperança equilibrista”. Depois da invasão da UFMG, vão apontar responsáveis pela liberação dos recursos, ao tempo do governo Lula.

Mais uma vez, a Andifes e a UNE precisam denunciar e resistir ao avanço da nova ditadura contra a instituição da Universidade, quebrando o silêncio que vem protegendo a violência do Estado.

A autora escreve em Português do Brasil

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