“Ao contracenar com Marcello Mastroianni em 1994 descobriu que não conseguiria ser o Maior Actor de Portugal, da Europa e do Mundo, de Teatro e Cinema; o mais popular Cómico do País e com maior unanimidade”.
Mas tinha a certeza que Portugal tinha alguns dos maiores poetas que mereciam ser ditos em voz alta.
As confissões do homenageado fazem companhia a outras peças do espólio pessoal de Mário Viegas, que podem ser revisitadas até 28 de Janeiro na Biblioteca Municipal de Viseu.
Dignificar a língua portuguesa e o teatro através da história daquele que foi um dos mais irreverentes actores do século XX é o propósito da exposição que mostra fotos, peças de cenografia, livros, roupa. Junta filmes em DVd´s, põe a rodar CD’s de poesia. Exibe áudios e vídeos inéditos com abordagens multimédia. Explora conteúdos culturais e sociopolíticos.
A exposição itinerante que quer “fazer diferente” chega agora a Viseu. É organizada pela associação LPV – Museu do Bem Estar, em parceria com o Museu Nacional do Teatro, e foi apresentada pela primeira vez em Salvaterra de Magos para assinalar duas datas: os 40 anos da Revolução de Abril de 1974 e o aniversário da morte do actor, no primeiro de Abril de 1996.
A LPV/Museu do Bem Estar é uma associação sem fins lucrativos criada para divulgar a memória de António Mário Lopes Pereira Viegas, que nasceu em Santarém a 10 de Novembro de 1948, às 23.30h, meia-Hora antes do Dia de S. Martinho, como se pode ler na sua “Auto-Photo Biografia (não autorizada)”.
Pelas suas mãos ficámos a saber: viveu a sua infância e adolescência em Santarém, onde estudou no Liceu Sá da Bandeira e onde se estreia como Actor e Recitador amador com o Coro de Amadores de Música, dirigido pelo Maestro Fernando Lopes-Graça, com 16 anos, em substituição da ex-Actriz e Declamadora Maria Barroso. Fica logo com a sua primeira ficha na P.I.D.E.”
Através das suas palavras sabemos que não tinha “pre-conceitos sexuais e “sendo escalabitano” gostava “de touros, cavalos, mulheres, homens, vinho branco ou tinto”, sabia dançar o fandango e “pegou uma vaca em 1967”. Chegou a terminar o terceiro ano do Curso Superior de História e fez parte da Crise Académica de 1969, “como Recitador e Agitador no Porto e em Coimbra”.
Nunca esteve filiado em nenhum partido ou clube desportivo, nem nunca foi convidado para tal, de acordo com o seu texto. Mas é-lhe retirado o adiamento militar, “por actividades políticas e é proibido de actuar como Actor e Recitador quer publicamente, na antiga Emissora Nacional e na R.T.P. Os seus discos de Poesia são proibidos de passar na Rádio, até ao 25 de Abril de 1974”.
O actor e “dizedor” de poesia, como se auto-intitulava, deixou escrito que “como Independente, participou ‘de borla’ em algumas campanhas e espectáculos ao vivo e na televisão do P.C.P. (1977), do P.S.R. e da U.D.P., até 1994”. Ficou “arrependidíssimo!”, no entanto, abriu “uma excepção à U.D.P.”
Chegou a concorrer em 1995, ao Parlamento nas listas da UDP e candidatou-se à Presidência da República com o slogan “O sonho ao poder”. “Desiludido e revoltado decide encetar a carreira mais fácil, menos efémera e com reforma assegurada: PRESIDENTE DA REPÚBLICA de Portugal, Açores, Madeira, Macau e Timor-Leste. As Sondagens dão-lhe 93,4% de intenção de voto. Não sabe o que quer para o País, mas o País sabe o que quer dele! Não quer ser o Presidente de todos os Portugueses! Tem como Lemas da campanha a frase de Eduardo de Filippo: ‘Os Actores vivem a sério no Palco, o que os outros na Vida representam mal’; e “Nesta Pátria onde a Terra acaba e o Mário começa!”.