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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

O novo escritório de Anne Singleton no Parlamento Europeu

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

A campanha de desinformação dos serviços secretos iranianos; perseguir a oposição por outros meios.A revolução islâmica iraniana impôs um Estado Islâmico no país, uma Constituição revolucionária, global e teocrática e uma mão de ferro que perseguiu, torturou e assassinou todas as vozes dissidentes.

A teocracia iraniana herdou uma das mais repressivas polícias políticas, a SAVAK do Xá; eliminando todos aqueles que não mudaram as suas obediências políticas. A teocracia manteve, por algum tempo, uma aliança contranatura com a secção soviética local, o Partido Tudeh, cujos membros foram mais tarde confrontados com a mesma opção de ou integrar o regime ou ser eliminado.

A maior parte da oposição à tirania foi esmagada até ao desaparecimento, sendo as excepções algumas organizações de minorias eteno-religiosas centradas na periferia do país ou o movimento de oposição de centro-esquerda, os Mujahedin do Povo do Irão (OMPI), também conhecidos pelo acrónimo persa, MEK.

Algumas das organizações oposicionistas foram mantidas como movimentos de ‘oposição fantasma’, manobrados directamente das centrais dos serviços secretos, que mudaram o nome sucessivamente de SAVAK, para MEVAK e para VEVAK.

Um ponto alto na campanha foi a ‘Fatwa’ de 1988 do dirigente teocrata Khomeini para o massacre de todos os dissidentes políticos nas prisões, independentemente dos procedimentos existentes, eles mesmos já tirânicos. Esta fatwa levou ao assassínio de dezenas de milhares de presos, na sua maioria, membros da OMPI.

Enquanto a oposição interna foi fundamentalmente desmantelada pelo massacre, ela subsistiu fora do país. Uma campanha de assassínio de oposicionistas foi lançada nos países vizinhos, tais como o Iraque, a Turquia e o Paquistão, e de dirigentes em países ocidentais, uma campanha que foi recentemente relançada com o assassínio de um dirigente da minoria árabe em Haia.

Por outro lado, os guardas revolucionários iranianos, organizações próximas ou filiadas como o Hezbollah libanês lançaram uma campanha generalizada de ataques terroristas em países onde os exilados iranianos se concentravam – como foi o caso da França – a fim de os pressionar a não acolher refugiados iranianos. Em iniciativas diplomáticas dirigidas ao Ocidente – relativas a oportunidades económicas ou a promessas de fim da promoção de actos de violência – a perseguição da oposição iraniana manteve-se sempre um objectivo prioritário na agenda dos negociadores iranianos.

Em 1997, as autoridades iranianas convenceram os EUA a inscrever a OMPI na lista das organizações terroristas, um passo que foi rapidamente seguido pela generalidade do mundo ocidental e que só terminou depois de sentenças judiciais aprovadas ou iminentes desmantelarem esta política ocidental de apaziguamento de Teerão.

Para além das campanhas de assassínio, manipulação de outros grupos extremistas, operações terroristas e contratos económicos, a política das autoridades iranianas, em especial a partir do princípio dos anos 1990, usou cada vez mais mecanismos de desinformação para atingir os seus fins políticos.

Foi este o caso da velha campanha ‘das armas de destruição maciça de Saddam’ ou da actual ocupação da Síria como uma guerra de libertação de jihadistas, como foi também o caso da perseguição da sua oposição.

Muito antes de começar a utilizar versões em língua inglesa nos seus mecanismos oficiais de publicidade – tais como a ‘Press TV’ – o regime de Teerão lançou uma sucessão de organizações forjadas com o objectivo de caluniar e lançar falsas acusações sobre os alvos do regime, muito em particular, a sua oposição.

Estas organizações utilizam uma lista infindável de acrónimos e de organizações, as mais conhecidas entre elas sendo a ‘Iran inter-link’ a ‘Najat Society’ – activas desde 2001 – e o mais recente ‘Habilian Center’. Por vezes, são usadas outras línguas como o francês ou o árabe.

Estas organizações e os seus dirigentes foram já há muito identificados como agentes da VEVAK. O estudo mais credenciado existente sobre os serviços secretos iranianos – “Iran’s Ministry of Intelligence and Security: A profile” publicado pelos Serviços de Investigação Federal da Biblioteca do Congresso dos EUA – confirma que:

Uma das mais importantes responsabilidades do MOIS é a de dirigir operações contra o MEK, identificando e eliminando os seus membros. Outros dissidentes iranianos também estão sob a alçada da acção do Ministério”

(tradução livre) / (página 1)

No que respeita aos agentes da VEVAK, o estudo confirma que a maioria são iranianos, mas que existem excepções, a mais notória das quais foi exactamente a do recrutamento da cidadã britânica ‘Anne Singleton’, recrutamento ao qual o relatório dedica uma página inteira (página 27).

Anne Singleton dirigiu uma equipa de supostos ‘dissidentes iranianos’ no Parlamento Europeu a 5 de Dezembro de 2017. Tal como fez publicar no seu próprio blog, ela usou o escritório da deputada Ana Gomes para coordenar a sua sessão de desinformação.

A coincidência das acções, interesses, argumentos e agenda de Anne Singleton e Ana Gomes tem sido demasiado evidente para mim, como pude testemunhar quando fui membro do Parlamento Europeu.

O que eu acho notável é que elas assumam aberta e publicamente a sua colaboração. Creio que o assunto não pode continuar a ser ignorado pelas instituições políticas que permitiram que esta actividade criminosa dos serviços secretos iranianos tenha continuado sem impedimentos.

Fotografia retirada do website de Anne Singleton, iran-interlink.org

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