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Terça-feira, Novembro 5, 2024

Marcelo: O Comentador-Geral da República

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Marcelo coloca-se numa posição externa ao Estado, na sua “mensagem de ano novo”, tanto  pelo conteúdo como pelo tom. “O ano tem de ser de reinvenção”[1]… Ah, sim, e “tem de ser” é o quê, um desejo? Marcelo é uma “machine désirante”? E, logo, avança que não aceita mais falhas do Estado[2]. Marcelo esqueceu-se que o Chefe do Estado é ele e que, portanto, é dele que está a falar ao conjugar o verbo falhar? Registe-se: Marcelo quer reinventar-se e não admite falhar.

Ao colocar-se numa posição externa ao Estado, Marcelo procura pôr-se de fora, a fazer exigências, e adopta uma posição de comentador atrevido que, além de “comentar”, apresenta um “caderno de encargos”.

Este posicionamento, escolhido e assumido por Marcelo, é altamente redutor e decepcionante. Ao reduzir a Presidência da República a um órgão de comentariato, Marcelo falha a função maior de um PR: ser o lugar geométrico da estratégia nacional. Uma função que, até hoje, só Eanes e Soares (com mais ou menos erros e equívocos) souberam assumir.

Mas, enfim, “cada um é para o que nasce” e Marcelo é definido e estruturado por duas coisas inquestionavelmente honestas e legítimas mas de que o sentido de Estado está ausente: uma paixão pelas câmaras (de televisão) e um software de comentador. “Estratégia, o que é isso?”, perguntar-se-à…

[1] “O ano que ora começa tem de ser de reinvenção”. Espera-se que Marcelo esteja a falar da Presidência da República que, reduzida à função de Comentadoria-Geral da República, falha totalmente a sua função de pedra de fecho da arquitectura da República Portuguesa.

[2] Marcelo diz que não aceita mais falhas do Estado. Mas como, por exemplo, o Estado tem um sistema de comunicações de emergência que só consegue funcionar se não houver emergências, Marcelo deverá indagar junto do seu “compadre” Ricardo Salgado como aconteceu a “montagem” do SIRESP. É pena, aliás, que em tempo oportuno não tenham falado do assunto durante as longas conversas a que se prestavam as férias que passavam juntos. Mas, se Salgado não se lembrar, Marcelo pode ainda indagar sobre a coisa a vários dos seus camaradas de partido, desde Oliveira e Costa a Cavaco passando por Dias Loureiro, etc. Fazendo este trabalhinho de casa, poderá evitar voltar a usar expressões sem sentido (na boca do Presidente) como esta do não aceitar falhas…

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