Com a o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de risco Standard & Poors, ruiu o castelo ilusionista de Temer-Meirelles sobre a “recuperação” da economia brasileira e a volta da “confiança”. Depois disso, falar em “legado” tornou-se algo ainda mais sem sentido. E como não existe o menor de risco de melhora na situação fiscal, as agências Mood’s e Fitch podem fazer o mesmo movimento. Quando o Brasil perdeu o grau de investimento, no curso dos ataques contra o governo Dilma em busca das condições para o golpe, a primeira a tirar do país o selo de bom pagador foi também a S&P, em setembro de 2015. Em dezembro foi a vez da Fitch e em fevereiro de 2016 o movimento foi completado pela Moody’s.
Um efeito político direto do rebaixamento pela S&P será a debilitação das pretensões eleitorais de Meirelles. O revés veio em seguida à declaração de Temer, de que prefere sua manutenção na Fazenda à sua transfiguração em candidato a presidente. Já seu principal concorrente no campo golpista, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, arrastará algumas fichas com o acontecido. Já tendo o apoio de dois partidos do Centrão (SD e PRB), ele agora busca os do PR e do PSD. Maia está repelindo o discurso do governo, que culpa o Congresso pela não aprovação da reforma previdenciária, e trata de aumentar a percepção de que ele é o líder parlamentar mais comprometido com as reformas. Seus movimentos não devem ser subestimados, neste quadro em que governo sangra e não consegue apresentar uma candidatura competitiva para 2018.
O movimento da S&P é altamente negativo para Temer e Meirelles porque suas justificativas apontam diretamente para a incapacidade do governo de entregar as reformas prometidas, referindo-se à fragilidade de seu apoio parlamentar no que diz respeito a esta agenda. Ou seja, Temer consegue safar-se das denúncias comprando votos mas não tem bala na agulha para arrancar de sua base a votação das reformas cobradas pelo mercado e pelas tais agências. Não lidera. “O enfraquecimento da nossa avaliação sobre o Brasil reflete um progresso mais lento que o esperado e o fraco apoio da classe política do país para implementar uma legislação significativa para corrigir em tempo hábil a piora fiscal”, afirma a nota da S&P. Não se trata da “classe política”, em verdade, mas da coalizão que deu o golpe brandindo o documento neoliberal “Ponte para o futuro”.
Embora a nota explicativa de S&P não faça referência ao assunto, o governo deu também um tiro no pé, acelerando o rebaixamento, com a abertura do debate sobre a mudança na chamada regra de ouro, que proíbe gastos maiores que os dispêndios com investimentos para conter o endividamento público. O governo recuou mas já era tarde. Já havia enviado o sinal de que a situação fiscal é mesmo calamitosa.
S&P mencionou um rebaixamento com viés “estável”. Isso significa que a própria agência não deve fazer nova avaliação negativa no curto prazo, salvo acidentes de percurso, mas isso não impede que as outras duas maiores agências de risco também decretem o rebaixamento da nota BB para BB- (BB menos). Não em questão de horas, mas de algumas semanas.
A autora escreve em Português do Brasil