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Domingo, Março 2, 2025

A unanimidade do TRF-4 e o banimento de Lula

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

BRASIL

O julgamento recursal do ex-presidente Lula escancarou a extensão da aliança do Judiciário com o projeto golpista-conservador, mostrando que ela é orgânica e vai muito além de Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato.  Mas foi com  a unanimidade na condenação e com a adesão dos outros dois desembargadores ao aumento de pena fixado pelo relator Gebran Neto que a oitava turma do TRF-4 dobrou o joelho esquerdo numa reverência desenvolta ao projeto golpista-conservador. Com estas duas medidas eles privaram Lula dos recursos infringentes, encurtando o caminho para seu enquadramento na Lei da Ficha Limpa,  e também para a sua prisão.

O propósito final não foi apenas o de inabilitar Lula mas também o de impedir que, mesmo não sendo candidato, ele se tornasse o grande eleitor, transferindo votos para outro nome do campo progressistas. Preso, estará fora da campanha, estará banido.

Só banindo e trucidando Lula  o caminho ficará completamente livre eles. Não haverá o risco de que outro candidato de esquerda chegue ao governo e volte com políticas inclusivas, com distribuição de renda, destinando ao povo um naco do orçamento, como fez Lula, ressuscitando o discurso soberanista e a valorização do Estado. A este propósito, o TRF-4 serviu diligentemente com sua unanimidade. Victor Laus, o voto divergente que era por alguns esperado, exalou certo constrangimento num voto claudicante, sem fluidez.

Com Lula fora da disputa,  apesar dos recursos que podem ser tentados nas cortes superiores,  e com Lula preso, apesar da vaga possibilidade de uma revisão, pelo STF,  da possibilidade de prisão a partir da condenação em segunda instância,  o condomínio de direita tratará logo de se unir, fixando-se em um único candidato que possa ganhar a eleição. Em Bolsonaro, darão um jeito facilmente, como ficou claro pela recente ofensiva midiática sobre seus pontos vulneráveis. Os candidatos do golpe são todos eleitoralmente débeis mas  Geraldo Alckmin ainda leva alguma vantagem sobre o insosso Meirelles e o juvenil Rodrigo Maia.

O voto de Gebran Neto, o prazer com que enumerava acusações contra Lula,  a forma como escandia as palavras mais pesadas e aviltantes, como corrupção e propina,  ecoava Joaquim Barbosa no julgamento da ação penal 470.  O que se viu neste dia 24 em Porto Alegre foi o terceiro ato de um drama que começou em 2005. Com o mensalão, tentou-se o desmanche do PT mas Lula conseguiu reeleger-se em 2006. Elegeu Dilma e ela também se reelegeu em 2014. Derrubaram Dilma com o golpe de 2016 mas eis que Lula ressurge como favorito para a eleição deste ano.

Ora, eles não fizeram o impeachment, o acordão com Supremo e tudo, nem se desgastaram tanto na operação Salva-Temer  para permitir que PT e aliados de esquerda voltem ao governo. Chegou a hora de degolar Lula, bani-lo completamente, de preferência para uma masmorra curitibana.

Mas pode dar errado. O julgamento começou a desatar o nó da inércia popular que se seguiu ao golpe. Os movimentos sociais se reenergizaram, a esquerda alcançou um mínimo de unidade, a solidariedade internacional a Lula foi e está sendo imensa. O PT promete resistência e também parece mais disposto à luta agora do que logo depois da grande derrota de 2016. Lula, enquanto estiver solto, promete continuar nas ruas, falando a língua que o povo entende. Tudo isso pode destampar a panela de pressão. Nos próximos meses, o Brasil caminhará sobre o fio da navalha.

A autora escreve em Português do Brasil

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