Poema de Sacuntala de Miranda,
Uma dançarina em traje tradicional goês
Anoitecer
«Enquanto espero que o manto da noite
envolva para sempre o meu corpo cansado
quis Deus enviar-me
a divina oferta da tua presença.
Saltando de estrela em estrela
desceste até mim com um cesto de prata
carregado de flores e de canções.
Convidei-te a entrar
acendi minha lâmpada há tanto tempo extinta,
desenterrei do pó
velhos retratos e memórias de infância
para te ofertar.
Sentaste-te no chão, à minha beira,
e poisei-te a mão sobre a cabeça
tão ao de leve que mal o sentiste.
Possas assim ficar,
pirilampo de luz,
cintilando na palma da minha mão
até à eternidade.
Mas um dia partiste
levando contigo velhas histórias de encantar
que me ligavam misteriosas
à terra onde nasceste
e que eu amava em ti
porque nela reside
a parte milenária do meu ser.
À luz do sol poente
tomei um pedaço de barro
e modelei amorosamente Ganês,
o teu deus elefante
tendo aos pés o ratinho
que bebe avidamente
a sabedoria dos livros.
Quando a lua nasceu
tomei mais barro e modelei Krishna
a sua face azul
trouxe-me o perfume dos mogarins
o som encantado da sua flauta
inundou o ar polvilhado de estrelas
e a paz do universo
penetrou em mim para todo o sempre.»
Poema de Sacuntala de Miranda