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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Cândido Capilé

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

Cândido Martins Capilé foi um jovem operário corticeiro assassinado a tiro pela polícia fascista em 1961, numa manifestação, na Cova da Piedade. À coragem demonstrada por todos os manifestantes, fazendo frente pacificamente às forças repressivas, estas responderam com tiros de metralhadora e Capilé foi a principal vítima.

Em 11 de Novembro de 1961, houve uma manifestação, iniciada na Cova da Piedade (Almada), para reclamar “Liberdade, Paz e Amnistia para os presos políticos”, e que foi dispersada a tiro de metralhadora pelas forças da repressão. Contam algumas testemunhas que se deparou, a dada altura do caminho para Almada, com uma barreira policial – que foi «forçada a fugir em debandada» pela determinação dos manifestantes. Depois de um segundo choque com a polícia, já em Almada, ter resultado em nova fuga desta, apareceu uma força conjunta da PIDE, GNR e PSP, armada com metralhadoras, opondo-se à marcha.

«Mas as massas não recuaram e continuaram avançando ao grito de “Abaixo o medo e Não há medo”, e os manifestantes recorreram às pedras e a tudo o que podiam para se defenderem das arremetidas da repressão e libertar, lutando com a polícia, todos os que aquela pretendia encarcerar».

Foi então que, «impotentes para conter as massas, os oficiais deram ordem para metralhar o povo, dizendo o sub-chefe: “Matam-se uns e os outros abalam.” Perante as contínuas rajadas, o povo foi forçado a dispersar, mas um seu companheiro, o operário corticeiro Cândido Martins Capilé seria morto, assassinado por uma das rajadas do sub-chefe ou do sargento Alves».

Gravura do Dias Coelho: «Última gravura de José Dias Coelho, de Novembro de 1961, para o Avante!, representando o operário Cândido Martins assassinado na frente de uma manifestação em Almada contra a burla eleitoral, e para que escreveu a legenda “De todas as sementes deitadas à terra é o sangue derramado pelos mártires que faz nascer as mais copiosas searas»

Cândido Martins Capilé

Na informação enviada pela PIDE à presidência do Conselho e ao Ministério do Interior, lê-se que o jovem fora membro da Comissão Concelhia de Silves do MUD Juvenil, onde desenvolveu «larga actividade», e que ingressara mais tarde no PCP.

António Almeida, Joaquim do Carmo, Luís Lopes e Carlos Alberto Rosado foram alguns dos participantes na manifestação de 11 de Novembro de 1961 que deixaram o seu testemunho numa sessão de homenagem a Capilé, em 2011[1]. E foi com emoção que recordaram a sucessão dos acontecimentos, a brutalidade da repressão policial, a imensa solidariedade demonstrada pelo povo de Almada com os manifestantes e a grandiosa jornada de protesto contra a barbaridade fascista, que teve lugar, três dias depois, em Cacilhas. Concentrou-se ali uma multidão que esperava o corpo do jovem corticeiro assassinado. Corpo que nunca chegou a cruzar o rio, pois a PIDE o desviou para um cemitério de Lisboa, tentando dessa forma evitar que o funeral de Cândido Capilé se transformasse noutra grande manifestação popular contra o fascismo: «às 15 horas, hora fixada para o funeral, o largo de Cacilhas estava repleto de uma multidão que transportava milhares de ramos de flores. Encontravam-se ali numerosas mulheres, crianças e delegações de trabalhadores vindas de todos os pontos da margem Sul, de Lisboa, do Algarve e de outras regiões. Grande número de trabalhadores das principais empresas de Almada (Arsenal, Parry Son, Olho de Boi, etc.) cessaram o trabalho».

Por volta das 17 horas, com o largo de Cacilhas a receber cada vez mais gente (o “Avante!” estimava em 20 mil as pessoas presentes a essa hora), a polícia lança sobre a multidão um imenso «aparato repressivo». «Com uma bestialidade poucas vezes vista, as forças policiais utilizaram cavalos, coronhas das espingardas, baionetas, e espadas. O povo, as mulheres e até as crianças são espancados selvaticamente e os ramos de flores arrancados das mãos e espezinhados com ódio.»

Obrigada a dispersar, a multidão volta a concentrar-se e a contra-atacar com as armas que tinha à sua disposição, nomeadamente pedras da calçada. As manifestações estendem-se simultaneamente a diversos locais do concelho prosseguindo pela noite fora.

No 25 de Abril de 1974, milhares de pessoas desfilaram, em cortejo, pelas ruas da Cova da Piedade, Almada e Laranjeiro, numa manifestação de apoio às Forças Armadas

Manifestação contra a fuga dos “pides”, em Almada

Repressão policial, em Aveiro (1973)


[1] A Comissão Concelhia de Almada do PCP assinalou em Almada a passagem dos 50 anos do assassinato do militante comunista.

Dados biográficos:

Gravura de José Dias Coelho.

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