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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Woody Allen: a vida numa banda sonora

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Heywood Allen, aliás Allen Stewart Konigsberg, nasceu a 1 de Dezembro de 1935, em Brooklyn, Nova Iorque. Neto de judeus emigrados da Rússia e da Áustria, Allen era filho de uma contabilista e de um gravador de jóias, nascidos e crescidos no Lower East Side de Manhattan. Com uma irmã, 2 filhos e 2 filhas, já passou por 4 casamentos e ocupa a sua vida como músico, escritor, actor, comediante e realizador de cinema. Allen Stewart Konigsberg é Woody Allen.

Mais que uma figura paradigmática e incontornável na história do cinema, Woody Allen é responsável por algumas das mais belas bandas sonoras de filmes, sem que nenhuma delas tenha sido composta especificamente para eles. Tanto nos argumentos como nas pautas, Woody Allen é acima de tudo um prestidigitador, alguém que mistura sentimentos e emoções, baralha e dá de novo, jogando todo o tempo do filme às escondidas com o espectador, levando-o a rever-se a si próprio na trama de cada um dos seus filmes.

O cinema de Woody Allen tem um forte travo a jazz. Escondida nas bandas sonoras da sua filmografia, espreita a paixão pelo clarinete e por New Orleans. Um amor que nasceu aos 13 anos, quando ouviu na rádio um concerto de Sidney Beckett a partir de Paris, dedicado à cidade crioula onde nasceu o jazz mais negro. A partir daí, os sábados de manhã eram preenchidos a ouvir os discos de Jimmie Noone, Bunk Johnson e Jelly Roll Morton, que comprava no Jazz Record Center em Nova York.

Depois de algumas alternativas menos bem sucedidas, Allen dedica-se ao estudo do clarinete. No entanto, como o próprio mais tarde admite, “tenho entusiasmo e paixão pela música, mas não sou talentoso”. Praticando várias horas por dia, mesmo quando está em filmagens, a perseverança levou à criação da sua própria banda, a New Orleans Jazz Band. Dedicada ao jazz clássico, há muitos anos que esta formação actua todos os serões de segunda-feira no Carlyle Hotel, em Manhattan.

É ao jazz que Allen vai buscar o enquadramento musical para envolver os problemas que aborda nos seus filmes. A música transforma-se num trabalho de coleccionador, onde o realizador procura em cada momento o tema que melhor se ajusta ao que está a filmar. É assim que surgem momentos inesquecíveis como “Rhapsody in Blue” na abertura de “Manhattan”, Sidney Beckett no travelling inicial de “Midnight in Paris” ou um dos momentos mais cómicos de “Radio Days”, quando um par de ladrões em pleno assalto atendem o telefone na casa que estão a roubar e entram em directo no concurso radiofónico “Guess That Tune”, acertando todas as respostas sem poderem reclamar o prémio.

Experimentalista militante e perfeccionista obsessivo, Woody Allen assume que “se por vezes falho, isso é um sinal de que não estou a fazer nada de muito inovador”. Este é o mote para uma pesquisa contínua e profunda, onde a sonoridade do jazz e do swing se aliam ao argumento e ao décor, criando um clima simultaneamente pueril e nostálgico que é a sua imagem de marca, temperado no humor amargo e delicioso de quem afirma que “nunca vou querer pertencer a um clube que aceite para sócio uma pessoa como eu”.

Vídeos

Rhapsody in Blue | Manhattan

Sidney Bechet | Midnight in Paris

Guess That Tune | Radio Days

 

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