“Preguiçosos” e “ingratos”. Foi assim que o filósofo francês Raphael Enthoven classificou os gauleses que se abstiveram nas últimas eleições regionais em França. Estas eleições registaram uma subida histórica do partido de extrema-direita Frente Nacional, lançando a preocupação nas restantes forças partidárias. Os elevados índices de abstenção nestas eleições (cerca de 50%) levaram a duras críticas por parte do filósofo, que negou a tese de que a abstenção se deve à ausência de propostas eleitorais concretas.
Numa entrevista à Rádio Europe 1, reproduzida pelo jornal francês L’Observateur, Enthoven foi mais longe e acusou os que se abstêm de votar de “negligenciar as conquistas que custaram a vida a outros, trabalhadores pobres (“gagne-petit”) que querem direitos sem deveres, pessoas desonestas que usam a nulidade das políticas de forma oportuna para justificar a sua frouxidão, são irresponsáveis que se remetem a pessoas que não elegeram para gerir os transportes, a cultura ou as escolas”. “A abstenção (…) é o indício de uma inquietante nulidade do corpo eleitoral em pessoa, e do orgulho dos seus membros”, prossegue Raphael Enthovent, claramente agastado: “Por quem se prende o tipo que não vai votar? Aquele que se abstém não é um eleitor de tal forma exigente que nenhuma proposta o atrai, é um snob que tem uma tal opinião elevada de si mesmo que teria a impressão de a contaminar ao misturá-la com a dos outros. É um menino mimado”. E o filósofo conclui: “Quem quer abster-se vai encontrar sempre boas razões para o fazer, por isso, o comportamento do abstencionista não se baseia na nulidade dos eleitos mas na dos eleitores”.
As reacções nas redes sociais não foram as mais afáveis para com o filósofo. Vários utilizadores do Twitter reagiram às declarações de Enthoven, dizendo que elas eram “indignas de um filósofo”, ironizavam com as acusações de “debilidade profunda” com que se referiu a quem se absteve de votar, e há mesmo quem diga que fazem falta novos Jean-Paul Sartre em França.
Raphael Enthoven é filósofo, professor e animador radiofónico, colaborou com várias revistas de filosofia e tem diversos livros publicados. Porém, é sobretudo conhecido como ex-companheiro sentimental da antiga top model Carla Bruni-Sarkozy; ambos tiveram um filho, Aurélien, e diz-se que é ele o tema central da canção “Quelqu’un m’a dit”, da esposa do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.