Vários presos políticos saharauis iniciaram uma greve de fome no passado dia 9 de Março, exigindo os seus direitos mais elementares, como o direito de visita dos familiares, tempo de saída da cela de acordo com o standard mínimo internacional, assistência médica e direito de comunicar com os seus advogados.A greve de fome é uma forma de protesto não violento e que é no caso dos presos o ultimo recurso quando os numerosos apelos é queixas não tiveram qualquer efeito.
Não existe nenhum artigo na lei marroquina que sancione o isolamento de um detido em greve de fome como forma de castigo, não obstante foi exactamente isso que aconteceu nos dias 9 e 12 de Março na prisão de Kentra e de Ait Melloul com os presos saharauis em Greve de Fome.
Já no dia 8 de Março, os directores da prisão de ambas as penitenciárias informaram os presos que tinham uma “nota de serviço”, dizendo que se eles começassem uma greve de fome, seriam isolados.
Às 8 da manhã de 9 de Março, Sidi Abdallahi Abbahah, El Bachir Boutanguiza, Mohamed Bourial e Abdallahi Lakfawni foram trazidos para células de isolamento em Kenitra no momento em que iniciaram a greve de fome. A administração da prisão só lhes permitiu ter 5 litros de água potável com eles.
Mohamed Bani e Brahim Ismaili que a 9 de Março tinham iniciado a greve de fome na prisão de Ait Melloul foram isolados no dia 12 de março sem água potável, em células de isolamento conhecidas como “caixões” minúsculas e sem janelas.
Segunda a declaração da filha do Sr. Ismaili, o Director Regional das Prisões de Agadir e o Director Prisioneiro de Ait Melloul 2 disseram ao Sr. Ismaili que, se ele caísse em coma, “eles lhe dariam uma injecção para se livrar dele definitivamente e acabar com os problemas”.
Referindo-se a prática de greves de fome um artigo publicado pelo British Medical Journal diz que: A ingestão média de líquidos deve ser mantida em torno de 1,5 l / dia. Idealmente, a água deve ser suplementada com até 1,5 g de cloreto de sódio (meia colher de chá de sal) por dia.”
Isto, não assume nenhuma actividade, nem transpiração excessiva por problemas de calor ou intestino e status de saúde normal, o que não é o caso, já que todos os detidos deste grupo possuem doenças crónicas derivadas dos maus tratamentos, torturas e condições de prisão a que foram submetidos desde a sua detenção em 2010.
Passados 7 dias o suprimento dos presos de Kenitra de água necessário para evitar complicações renais foi consumido. Em Ait Melloul, os dois presos em greve da fome estão sem água potável.
Olfa Ouled uma das advogadas da equipa de defesa destes presos políticos Saharauis que tinha já tomado medidas para saber o motivo da colocação em isolamento dos detidos, mas não recebeu nenhuma resposta, a advogada declarou que, espera que, o sistema de justiça marroquino irá intervir e pôr fim a estas violações graves tanto da lei marroquina quanto das normas mínimas internacionais.
As retaliações contra os presos políticos agravam-se sempre que existem problemas externos que colocam em causa a posição marroquina sobre o Sahara. Desde 27 de Fevereiro que Marrocos tem sofrido várias derrotas a nível económico (ler aqui). E nas últimas semanas circularam rumores em meios de comunicação online da possível morte do monarca marroquino Mohamed VI e da possível sucessão do filho, Boulay Hassan nascido a 8 de Maio de 2003, agora com 15 anos
Nos próximos dias 15 e 16 de Março, o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto organiza duas conferências onde irá ser debatida a questão do Sahara Ocidental.