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João de Sousa

Domingo, Julho 28, 2024

Os filhos da guerra na Síria

Nos dois primeiros meses deste ano, mil crianças foram mortas ou feridas durante a intensificação da violência em território Sírio. O conflito é hoje a principal causa de morte entre adolescentes no país e o risco de exploração, abuso e negligência para crianças com deficiência aumenta com a morte ou separação de seus cuidadores, alertou esta semana o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

“Nos conflitos, as crianças com deficiência estão entre as mais vulneráveis”, disse Geert Cappelaere, director regional da organização para o Oriente Médio e o Norte da África ao destacar que elas muitas vezes precisam de tratamento e serviços especializados. Sem acesso a estes cuidados, escolas e meios de assistência, como cadeiras de rodas, muitas crianças com deficiência enfrentam um risco extremamente real de exclusão, negligência e estigmatização à medida que o conflito implacável continua” Acrescenta.

Só no ano passado, mais de 360 crianças ficaram feridas e muitas delas vivem hoje com algum tipo de deficiência. Estima-se que 3,3 milhões de menores continuem expostos a explosivos, incluindo minas terrestres, artilharias não detonadas e dispositivos improvisados. E esses são apenas os números registados pelas Nações Unidas. A realidade pode ser bem mais dramática.

O uso de armas explosivas e os ataques indiscriminados em áreas densamente povoadas mataram um número crescente de crianças que pode representar um quarto das mortes civis. Relativamente à população total, mais de 1,5 milhão de pessoas vivem com deficiências permanentes relacionadas com a guerra.

Apesar dos apelos das organizações humanitárias, a ajuda continua a não chegar a locais como Idlib, Ghouta oriental, ou Afrin. Os bombardeamentos impedem que comida, medicamentos e roupa sejam distribuídos nas zonas cercadas pela guerra. Segundo o relatório da ONU divulgado esta semana, em 2017 houve 75 ataques aéreos a escolas, hospitais e estabelecimentos de saúde, e o apoio humanitário foi negado mais de cem vezes.

Desde 15 de Março de 2001, data do início do conflito, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos contabiliza cerca de meio milhão de mortos, e sem conseguir especificar o número de crianças vitimadas pela guerra, há quem avance com estimativas na ordem das 20 mil.

Dos 32 milhões de habitantes que a Síria tinha há sete anos, metade foi dramaticamente afectada pela violência: há mais de seis milhões de deslocados internos; outros tantos refugiaram-se nos países vizinhos (Turquia, Líbano e Jordânia) em busca de segurança; e 13 milhões dos que permanecem em território sírio precisam de ajuda humanitária.

“Um enorme rasto de tragédia”

O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou na semana passada que “o contínuo sofrimento dos civis marca um grande fracasso político”. “Para o bem das pessoas ainda vivas, é hora de acabar com este conflito devastador. Não há vencedores claros nesta busca sem sentido por uma solução militar. Mas os perdedores são fáceis de ver — eles são o povo da Síria”, criticou o dirigente, que descreveu a destruição deixada pela guerra como “um enorme rasto de tragédia”.

Ainda durante a sua visita ao Líbano, ressalvou que embora o foco esteja na devastação dentro de território sírio, “não deve ser esquecido o impacto nas comunidades de acolhimento nos países vizinhos e do efeito que tantos anos de exílio têm sobre os refugiados”.

Enquanto não houver uma solução política para o conflito, a comunidade internacional deve intensificar o seu investimento nos países de acolhimento” Sugere Grandi

O alto-comissário frisou por fim que a próxima Conferência Internacional sobre Apoio ao Futuro da Síria e da Região, prevista para Bruxelas nos dias 24 e 25 de abril, deve resultar em promessas firmes de auxílio financeiro e de outras formas assistência.

  • Segundo relatórios da Unicef, registaram-se 910 mortes de crianças entre Janeiro e Dezembro de 2017, quase o dobro que no ano anterior.
  • Estima-se que mais de 5 milhões de sírios necessitam de ajuda humanitária urgente, vivendo em condições que põem em causa as suas vidas em termos de segurança e de direitos básicos.
  • Em 2016, pelo menos 652 crianças foram mortas – um aumento de 20 por cento em relação a 2015; 255 delas foram mortas numa escola ou nas suas imediações, já que foram registados pelo menos 338 ataques contra hospitais e pessoal de saúde; neste ano mais de 850 crianças foram recrutadas para combater no conflito, mais do dobro do das que foram recrutadas em 2015. As crianças estão a ser usadas e recrutadas para combater directamente nas linhas da frente e participam cada vez mais activamente, incluindo em casos extremos de execuções, como, bombistas suicidas ou guardas prisionais.

Fotos: Unicef

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