No passado dia 16 de Março milhares de cidadãos marroquinos de Jerada vieram mais uma vez às ruas manifestarem-se contra a extrema pobreza em que vivem e em desafio à proibição de manifestações decretada pelo governo.O governo Marroquino e o Rei parecem ter perdido o controle férreo sobre a população marroquina que exercem através da repressão e métodos de silenciamento da imprensa e vozes discordantes há décadas com a permissividade e sob o olhar da comunidade internacional, sobretudo da Europa.
Habitantes de várias regiões e cidades de Marrocos protestam há meses contra as condições de vida que obrigam a maioria da população marroquina a viver em pobreza extrema.
A 16 de Março foi a vez de vários milhares de habitantes de Jerada protestarem e exigir uma alternativa económica, desafiando a proibição de manifestações decretada pelo governo.
Jerada está localizada no Nordeste de Marrocos, não muito longe da fronteira com a Argélia. Uma região abandonada pelo governo desde o encerramento das minas de carvão, no final dos anos 90, que empregavam cerca de 9000 trabalhadores.
Actualmente, jovens sobrevivem descendo poços ilegais extraindo o carvão de forma manual. Em Dezembro de 2017 dois destes jovens morreram e foram a faísca de uma revolta que tem vindo a aumentar.
A 14 de Março os manifestantes e as autoridades envolveram-se em confrontos sérios, com danos materiais e centenas de feridos. As autoridades marroquinas detiveram 9 manifestantes e o Ministério do Interior nega a existência de feridos civis.
Os manifestantes feridos não se dirigiram ao hospital uma vez que é prática habitual dos hospitais colaborarem com a polícia e denunciar os manifestantes que são presos quando buscam tratamento.
A Associação Marroquina para os Direitos Humanos (AMDH) expressou a sua solidariedade com os moradores da cidade de Jerada, pedindo o diálogo para encontrar soluções para as suas legítimas reivindicações sociais e económicas.
Num comunicado publicado por esta ONG, a AMDH diz que está “surpresa” com o silêncio do governo e reitera a sua: solidariedade com os habitantes de Jerada e as suas legítimas exigências e os seus direitos a alternativas urgentes à actividade mineira capazes de garantir-lhes uma renda que lhes permita viver com dignidade”.
A associação também está indignada com o abandono do diálogo pelas autoridades de Jerada e pelo “seu uso da repressão, proibição de manifestações pacíficas e prisão de activistas”, instando o Estado a retomar o diálogo sério e trabalhar para alcançar os seus resultados para atender às reivindicações dos activistas Hirak em Jerada e devolver a esta cidade o apoio que perdeu desde o fim da actividade de mineração de carvão.
A ONG marroquina também pede a abertura de uma investigação sobre o saque económico cometido na cidade e para “responsabilizar aqueles que realmente se beneficiam com a exploração de” cinzeiros “(minas abandonadas), a fim de “compensar as vítimas e as suas famílias”.
A AMDH não mencionou nomes de pessoas ou organizações que estariam envolvidas neste “saque”.
Finalmente, a AMDH solicita a libertação dos detidos de Hirak de Jerrada e o respeito pelo direito de se manifestar pacificamente.
Depois da região do RIF que está em revolta desde 2017 é agora a vez de Jerada, a pobreza extrema, a corrupção e o regime totalitário de um rei decrépito que se mantêm no poder à custa do controle da população pelos militares, policias e serviços de inteligência, são sinais claros que a democracia nunca chegou a Marrocos.
O cartão postal turístico que é vendido à opinião pública portuguesa está muito longe da realidade, de um país em tumulto, inseguro, dependente do trafico de droga. Um país que ocupa ilegalmente o Sahara Ocidental e reprime a população saharaui numa lógica colonialista do século XVI, mas que também maltrata e reprime os próprios cidadãos.
O regime marroquino mantém a Europa refém através do apoio incondicional de França, e a conivência de Espanha. O reino de terror beneficia largamente da cumplicidade da comunicação social que parece não ter interesse em divulgar o que se passa no país vizinho que não seja a versão oficial divulgada pelo palácio.
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Maroc : les habitants de Jerada protestent contre leurs conditions de vie