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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

A dor de conviver com o genocídio palestino

Infelizmente a narrativa que a História permite é a de Israel com uma prática genocida contra o povo palestino, esta ação se torna ainda mais cruel quando lembramos das atrocidades sofridas por sua população frente ao nazismo.O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) considerou como ” crimes de guerra” a política de expansão dos assentamentos de colonos judeus em territórios palestinos, tanto na parte ocidental , como Al-Quds (Jerusalém) e os territórios sírios do Alto Golan. Os assentamentos violam o artigo 147 do “Acordo de Oslo”, firmados em 1993. Este acerto visava concretar um Estado palestino com plena autodeterminação. A Cisjordânia com seus 5860 quilômetros quadrados, deveria ser dividida em três áreas, A, B e C. A primeira compreenderia 18% do território em poder da ANP ( Autoridade Nacional Palestina), o espaço B em seus 23% estava em controle militar de Israel e de poucos palestinos civis, a parte C com 59% controlada totalmente por Israel deveria ser repassada para este novo Estado palestino. A esperança e o acordo internacional se transformou numa grande falácia.

As resoluções, decretos e leis que deveriam deter a expansão dos assentamentos se esvaíram pelo desejo de dominação de Israel e o apoio sequestrado para sua causa de governos estadunidenses. O contexto descrito pela Oficina de Coordenação de Assuntos Humanitários(OCHA) que auxilia a ONU, aponta para um grau elevado de vulnerabilidade humana:

É a única entre as crises humanitárias que existe no mundo diretamente relacionada com impacto de uma ocupação, os israelenses negam aos palestinos a possibilidade de controlar aspectos básicos da vida cotidiana (…) Sua capacidade para mover-se sem obstáculos dentro do seu próprio país, sair e regressar, significa o poder de desenvolver grandes partes do seu território, construir em sua própria terra, ascender sobre os recursos naturais e evoluir em sua economia. Tudo é determinado pelas forças ocupantes.”

Israel tem aprovado leis racistas que impulsionam a usurpação das terras palestinas. Este modelo , denunciado pela Liga Árabe em fevereiro deste ano, utiliza a lei básica de Israel sobre Al-Quds (Jerusalém) ao determinar que a cidade é a capital de Israel, o orçamento (137 milhões de dólares) é o maior dos últimos 70 anos para o setor, com intuito de construção de assentamentos ilegais, até mesmo o metrô por baixo da parte velha ,terá uma estação chamada Donald Trump (presidente que apoia o processo de ocupação). Os ganhos dos colonos já superam 650 milhões de dólares anuais , três grandes companhias israelenses possuem o monopólio de produtos no assentamentos , bem como é o regime de Israel que controla 85% dos recursos hídricos e 82% das pastagens.

O saque israelense é dividido por 230 ocupações desde 1967, uma alocação que atualmente está na ordem de 600 mil invasores. Dentre os cinco maiores assentamentos, destacam-se Modi’in Illit (64 179 pessoas), Beitar Illit (49343 ), Ramot (44090), Pisgat Ze’Ev(43500) e Ma’Ale Adumim (37525). Israel viola os direitos humanos sem nenhuma sanção internacional. O governo genocida de Bejamin Netanyahu , que assassinou em torno de 2000 pessoas em 2014 em Gaza, sendo a maioria crianças e idosos, ainda é recebido por presidentes como da Argentina, México, Colômbia e até recebeu convite do atual governo brasileiro para uma visita em junho próximo.

É de difícil escolha, depois de tantos fatos, qual seria determinante para levar as autoridades mundiais o impedimento das atrocidades de Israel. Desde do uso de drones em jogar gás lacrimogênio na população palestina até a prisão de seus trabalhadores ou quem lhe forneça emprego, são situações que urgem por uma solução. Nesta semana uma criança de 3 anos foi presa, sem qualquer razão, mesmo com os gritos do pai e o choro do seu irmão adolescente. O silêncio prático dos organismos internacionais nos apontam que vivemos tempos de bipolaridade em termos de parâmetros sobre os reais criminosos da humanidade.

Como tantas vezes se assinalou, não existe atualmente maior similaridade com os guetos que os 365 quilômetros quadrados da faixa de Gaza. A perversidade é tamanha que só se permite o mínimo “per capita” de água e comida , um regime forçado de fome. Doentes não podem sair em busca de tratamento especial e remédios são regrados. As saídas, Erez e Fafah, são portas vigiadas pelos israelenses e egípcios, até pescadores se suplantarem as três milhas da costa poderão ser atingidos pela marinha da ocupação.

A política de repressão permanente, expulsando as famílias de suas terras e destruindo suas lavouras, gerou 7 mil palestinos prisioneiros nas cadeias israelenses, sendo 350 crianças. Israel em vez de mudar sua política criminal , insiste que é vítima ignorando até as resoluções da Comissão de Direitos Humanos contra suas barbaridades. Uma política que visa invisibilizar a sociedade palestina , beirando a máxima: “eu assassino, eu roubo…mas sou vítima”.

Enquanto estas frases eram construídas, os palestinos caminhavam pacificamente na “marcha para direito ao retorno”. Israel respondeu com 15 mortes e mais de 1000 feridos, uma em especial , do escultor Muahamad Abu Amro, atingido fatalmente por uma franco atirador quando fazia uma escultura na areia da praia em Gaza.

A faixa de Gaza é o campo de concentração do nosso século, Bejamin Netanyahu o genocida do nosso tempo e os palestinos carregam o sofrimento que abateu outrora os judeus com o regime nazista. O silêncio de nações no genocídio da segunda guerra, grita da mesma forma na história presente, uma passividade quase cúmplice de um” remake” doloroso do sistema nazista ou do “apartheid” sul-africano.

É por tudo isso que se revela que o mundo não pode permitir a manutenção do genocídio palestino. Neste contexto , o povo judeu é o aliado principal para a paz. A sua história de sofrimento e superação, lhe credencia para não repeti-la, agora através do seu governo cumprindo a função de algoz. Nesta abordagem, lhe cabe destituir a administração genocida e corrupta de Bejamin Netanyahu, abrindo as portas para a paz e fechando para uma guerra lucrativa e ilegítima. O povo judeu deveria assumir o protagonismo de permitir a volta dos refugiados palestinos, e deter os crimes de guerra do seu governo, algo que os alemães não fizeram com os nazistas.

Por Túlio Ribeiro, Economista, pós-graduado em História Contemporânea, mestre em História social e doutorando em Desenvolvimento Estratégico pela UBV de Caracas. Autor do livro A Política de Estado sobre os recursos do petróleo, o caso venezuelano (2016). Autor participante do livro A Integração da América latina: A História, Economia e Direito (2013) | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial Brasil247 / Tornado

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