(1920 – 1982)
Destacado antifascista aveirense, Seiça Neves teve um importante e constante papel nas lutas pela Democracia. Figura política de reconhecida seriedade e com grande prestígio nos meios democráticos, ao lado de outros notáveis aveirenses – João Sarabando, Mário Sacramento, Arnaldo Saraiva, Manuel Costa e Melo e Armando Seabra – Álvaro Seiça Neves nunca disse não a um combate contra o regime fascista.
Biografia
Álvaro José Pedrosa Curado de Seiça Neves nasceu na freguesia de Santa Clara, em Coimbra, a 28 de Março de 1920, e faleceu em 15 de Março de 1982. Era filho do professor e advogado Manuel das Neves, também ele um antifascista muito respeitado na região de Aveiro. Estudou no Liceu de Aveiro até ao ensino superior e prosseguiu os estudos na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Direito. Na década de 40 pertenceu ao MUD, tendo sido representante da Academia de Coimbra na Comissão Distrital desse Movimento, quando ainda estudante, e, já advogado, seu representante nas reuniões nacionais.
Foi preso pela PVDE sob a acusação de actividades subversivas e julgado no Tribunal Militar do Porto, sendo defendido pelo pai. Saiu em liberdade, absolvido. Em 1949 fez parte da comissão de candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República. Em 1951 apoiou a candidatura à Presidência da República de Ruy Luís Gomes (apresentada pelo MUD); em 1958, a de Arlindo Vicente e, depois, a de Humberto Delgado, fazendo parte da Comissão Nacional desta Candidatura.
Álvaro Seiça Neves na campanha eleitoral do general Humberto Delgado (1958)
Foi membro da comissão executiva do I Congresso Republicano de Aveiro, reunido em 1957. Foi um dos secretários do II Congresso Republicano, realizado também em Aveiro, em Maio de 1969, e proferiu então a alocução de abertura. Ainda em 1969, foi candidato da CDE (círculo de Aveiro) nas eleições legislativas. Em 1973 fez parte da Comissão Nacional e da Comissão Executiva do III Congresso da Oposição Democrática[1], a cuja sessão de abertura presidiu, no impedimento de Ruy Luís Gomes[2]. Foi presidente eleito da Casa-Museu de José Estêvão . Como advogado, secretariou a delegação de Aveiro da Ordem dos Advogados, a que depois presidiria, e, entre 1963-1965 e 1966-1968, foi vogal do Conselho Distrital de Coimbra daquela Ordem.
Depois de Abril de 74
Em Janeiro de 1978, assinou um manifesto dirigido Ao Povo Português, protestando contra o governo de coligação entre o Partido Socialista e o Centro Democrático Social, que estava prestes a constituir-se. Logo após o 25 de Abril, foi co-fundador do semanário aveirense Libertação, e membro da sua redacção. Álvaro Seiça Neves era casado com Maria Dora Seiça Neves e teve três filhos, Maria Manuela, João Manuel e Álvaro José . Foi homenageado em 2013, na Sessão de comemoração do 40º aniversário do III Congresso da Oposição, realizada em Aveiro em 1973, por iniciativa do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (parceria com Universidades); e no 45º aniversário, por iniciativa da URAP.
Seiça Neves é o 2º à esquerda nesta fotofgrafia. Em 1956, Jaime Cortesão proferiu uma conferência em Aveiro sobre o 16 de Maio.
Jantar comemorativo do 16 de Maio de 1828, uma data histórica em Aveiro. Na fotografia, Álvaro Seiça Neves, Mário Sacramento, Júlio Calisto, Dora Seiça Neves, João Sarabando, Costa e Melo. Fotografia da Página “Mário Sacramento e Cecília”.
Seiça Neves abre o 3º Congresso. Fotografia enviada por Daniel Cruzeiro para a página “Mário Sacramentoe Cecília”: Em memória do meu avô, que apesar de uma doença que o consumia, sem um lamento, nunca deixou de lutar pela liberdade de que os meus filhos beneficiam. Foi assim há 40 anos… — com Flávio Sardo, Álvaro Seiça Neves, António Neto Brandão, João Sarabando, Antonio Manuel Pinho Regala e Carlos Candal.”
[1] Foram mais uma vez os democratas de Aveiro que se propuseram alcançar os objectivos almejados, impulsionando o seu arranque através de um grupo de activistas reunidos em comissão executiva, constituída pelos cidadãos: Álvaro de Seiça Neves, António Neto Brandão, Carlos Candal, Flávio Sardo, João Sarabando, Joaquim Silveira, Manuel Andrade e os jovens António Regala e Mário Rodrigues
Passo importante para uma frente ampla e unida da oposição democrática. A manchete do Expresso de 7 de Abril de 1973 era sobre o III Congresso de Aveiro – um conclave só autorizado pela ditadura em anos de eleições. Na foto, a cadeira vazia onde não se pôde sentar o indigitado presidente do congresso, Ruy Luís Gomes, um dos muitos intelectuais no exílio. O jornal dedicou quatro páginas ao congresso. E seriam mais, não tivessem sido os 79 (!) cortes feitos. A começar no próprio telegrama endereçado pelo seu presidente e a que foi suprimida a sequência “independência povos colónias”.
Coube ao anfitrião aveirense, Álvaro Seiça Neves, dirigir a sessão de abertura, de cujo discurso foi cortada uma transcrição de oito parágrafos relativos à guerra colonial. Igualmente eliminada a frase “mudado o nome à PIDE e à União Nacional.” João Pedro Castanheira, in O III Congresso da Oposição em Aveiro, Expresso, 4 de Abril de 2008.
[2] Profundamente sensibilizado convite presidir Congresso saúdo companheiros consciente da importância deste Congresso para objectivos centrais nossa luta liberdades democráticas povo português independência povos coloniais declaro aberta a sessão” Foram estas as primeiras palavras da sessão inaugural do 3º Congresso da Oposição Democrática realizada no Cine-Teatro Avenida. Pronunciou-as Álvaro Seiça Neves e foram enviadas do exílio, por telegrama, pelo Prof. Rui Luís Gomes, presidente da sessão por vontade unânime da Comissão Nacional. – Jornal «República» de 5 de Abril de 1973.
Dados biográficos:
- Mário Matos e Lemos, “Candidatos da oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo 1945-1973: Um Dicionário”. Lisboa: Texto, Assembleia da República, 2009.
- Seara Nova: Pelas margens dos Congressos…
- Município de Aveiro – Assembleia Municipal: Acta N.º 58 -1 Reunião de 28-04-2008