No serão do próximo sábado, em Berlim, serão conhecidos os nomes dos vencedores dos Prémios do Cinema Europeu. Em termos de marketing, esta recompensa até poderá ser encarada como uma analogia europeia ao prémio Óscar. Até porque a grande diferença entre os Estados Unidos e a Europa é que na Europa o sucesso económico não é tão relevante. Acaba por pesar mais o relevo artístico, a inovação da linguagem cinematográfica e a manutenção de tradições de cada país. Seja como for, os EFA são os prémios mais importantes para o cinema que se faz no Velho Continente.
Para já, o filme A Juventude (Youth) do italiano Paolo Sorrentino lidera as nomeações, com cinco categorias: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor (Michael Caine), MelhorActriz (Rachel Weisz) e Melhor Argumento (Paolo Sorrentino). Depois, com quatro nomeações, Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência (A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence) do sueco Roy Andersson e The Lobster de Yorgos Lanthimos. O drama inglês 45 Years consegue a nomeação para Melhor Actor (Tom Courtenay), Melhor Actriz (Charlotte Rampling) e Melhor Actor (Andrew Haigh).
Já agora, importa atentar na curiosidade que para além de Victoria e A Juventude os outros filmes têm todos relações com o mundo de fauna. Será essa uma aspiração dos realizadores em generalizar para criar metáforas poéticas? A verdade é que todas as histórias são uma espécie de meditação sobre a vida (o que sublinha o título do filme do Roy Andersson). A diferença está na forma como cada um fez a sua aproximação, escreveu o guião e optou por um género. Há anti-utopias, um mockumentary ou a procura de paradoxos de vida e temos ainda um caso de cinema clássico.
Quem será o escolhido? Sorrentino até pode ganhar de novo, depois de tudo arrebatar há dois anos atrás, com A Grande Beleza. No entanto, a verdade é que esta não é uma palavra nova para o cinema europeu.
Talvez seja mais interessante reparar em dois filmes bem interessantes – The Lobster e Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência. De um lado, o grego Yorgos Lanthimos (The Lobster) oferece ao sujeito algo inesperado e atravessado por uma realidade nova e muito paradoxal. Já o filme de Roy Andersson também conserva um paradoxo. Algo que se prolonga dos seus filmes anteriores. Por isso com extravagância o trabalho do Andersson tem a aparência das coisas bem conhecidas.
Victoria também é muito interessante. Desde logo pela sua premissa de se afirmar como um filme de 2 horas com um único plano! Sim, sem truques de montagem. O importante que Victoria é a estreia do Sebastian Schipper. Uma estreia com muito bom nível. Mas talvez o lado ‘caseiro’ possa ser desfavorável.
Por outro lado, este grupo de filmes comunga de valores políticos. Deniz Gamze Ergüven pode ganhar. Em Mustang ela fala sobre o direito das mulheres no mundo moderno. Algo que a Europa civilizada gosta de abordar. O filme também é feito com o género mais fácil de agradar, a comédia trágica.
Falta referir Rams de Grímur Hákonarson. O cinema nórdico é muito especial e Rams prova-o. Mas se os membros da Academia optarem por este humor islandês muito severo, a cerimónia com o prémio para o Grímur Hákonarson seria realmente a maior das surpresas.
Seja como for, há muitas nomeações. E mesmo quem não ganhar o prémio principal de Melhor filme, terá mais oportunidades nas outras categorias.
NOMEADOS
Melhor Filme Europeu
A Juventude, do italiano Paolo Sorrentino.
Dois amigos, um compositor e um realizador passam o verão num hotel termal alpino. Passeios longos e conversas ajudam-nos a refletir sobre o passado e sobre a felicidade da juventude.
A Piegon Sat on a Branch Reflecting on Existence, do sueco Roy Andersson
O raciocínio sobre a vida. Triste e ao mesmo tempo muito espirituoso.
The Lobster, do grego Yorgos Lanthimos
O futuro próximo. Um hotel muito estranho onde as pessoas participam numa espécie de reality show em que têm de arranjar namorados. Em caso de falhanço, convertem-se em animais e vão viver na floresta. Um dia um senhor decidiu ser uma lagosta.
Mustang, da turca Deniz Gamze Ergüven,
Cinco irmãs rebeldes numa aldeia turca. Elas estão contra as tradições. Mas não é fácil lutar para ter o direito de liberdade.
Rams, do islandês Grímur Hákonarson
Islândia. Dois irmãos não se falam há 40 anos. Mas um dia têm de superar desavenças para salvar os seus carneiros.
Victoria, do alemão Sebastian Schipper
Victória veio de Berlim para Espanha. Numa noite de folia conhece miúdos com quem passa o resto da noite. Ninguém sabe como esta noite vai acabar… Um filme com a curiosidade de ter sido filmado num único plano, sem cortes.
Melhor Realizador Europeu do Ano
Roy Andersson, por A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence
Yorgos Lanthimos, por The Lobster
Nanni Moretti, por My Mother
Sebastian Schipper, por Victoria
Paolo Sorrentino, por Youth
Malgorzata Szumowska, por Body
Melhor Comédia Europeia
A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence, de Roy Andersson
The Bélier Family, de Eric Lartigau
The Brand New Testament, de Jaco Van Dormael
Melhor Actor
Michael Caine, em Youth
Tom Courtenay, em 45 Years
Colin Farrell, em The Lobster
Christian Friedel, em 13 Minutes
Vincent Lindon, em The Measure of a Man
Melhor Actriz
Margherita Buy, em My Mother
Laia Costa, em Victoria
Charlotte Rampling, em 45 Years
Alicia Vikander, em Ex Machina
Rachel Weisz, em Youth
Melhor Argument0
Roy Andersson, por A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence
Alex Garland, por Ex Machina
Andrew Haigh, por 45 Years
Radu Jude & Florin Lazarescu, por Aferim!
Yorgos Lanthimos & Efthymis Filippou, por The Lobster
Paolo Sorrentino, por Youth
Melhor Documentário
A Syrian Love Story, de Sean McAllister
Amy, de Asif Kapadia
Dancing With Maria, de Ivan Gergolet
The Look of Silence, de Joshua Oppenheimer
Toto and His Sisters, de Alexander Nanau
Melhor Animação
Adama, de Simon Rouby
Shaun The Sheep, de Richard Starzak & Mark Burton
Song of The Sea, de Tomm Moore
Prémio Revelação – FIPRESCI
Goodnight Mommy, de Veronika Franz & Severin Fiala
Limbo, de Anna Sofie Hartmann
Mustang, de Deniz Gamze Ergüven
Slow West, de John Maclean
Summer Downstairs, de Tom Sommerlatte
Miguel Gomes vence prémio
Entretanto, no passado dia 27 de Outubro foram divulgados os primeiros vencedores das categorias técnicas, para Fotografia, Montagem, Design de Produção, Guarda-Roupa, Compositor e Design de Som.
Melhor Fotografia
Martin Gschlacht, por Goodnight Mommy (Austria)
Melhor Edição
Jacek Drosio, por Body (Polónia)
Melhor Design de Produção
Sylvie Olivé, por The Brand New Testament (Bélgica/França/Luxemburgo)
Melhor Guarda-Roupa
Sarah Blenkinsop, por The Lobster (RU/Irlanda/Grécia/França/Países Baixos)
Melhor Compositor
Cat’s Eyes, por The Duke of Burgundy (RU/Hungria)
Melhor Design de Som
Vasco Pimental e Miguel Martins, por As Mil e Uma Noites – Vol. I-III (Portugal/Alemanha/França/Suíça)
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