Anda aí gente deseducada a pensar que Marcelo Rebelo de Sousa não é à direita quanto baste. Um erro, mas que pode ser uma maravilha para a Esquerda paralamentária. Se Sampaio da Nóvoa e a Senhora Belém explorarem isto como deve ser, acusam-no de perigoso esquerdismo e os garotos do PSD fogem logo. Com sorte e alka-seltzer ainda vão votar na Marisa ou no padre Edgar, só para a birra. E com mais sorte ainda Marcelo terá de ir à segunda volta, convencer o seu eleitorado de que é, afinal, mais à direita que um Vichy e do que qualquer vichyssoise.
Mas a gente educada sabe o contrário: quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Ver Marcelo pelo país, com a casaca de cordeiro, muito sim-senhor, mais com certeza, é um dos grandes trunfos do candidato. Milhares de espectadores d’”A Quinta” e dos debates de Pedro Guerra contra o mundo farão do professor um herói dos moderados, um campeão dos centristas. Lá para fim de Janeiro haverá quem lhe chame o verdadeiro “espírito de Sá Carneiro”.
António Costa não errou ao dar liberdade de voto aos militantes e simpatizantes do PS – que são gente muito diversa e nunca se contentariam com a obrigação de voto. O erro de Costa foi não decidir no momento certo que Nóvoa (ou Belém) seria quem representava o socialismo democrático, sopesando assim o equilibrismo do governo “à esquerda” com um candidato “ao centro”, que retiraria palco a Marcelo. Mas pedir a Costa que seja um estratega decisor pode ser contranatura, para quem aprendeu a decidir com Guterres.