Quinzenal
Director

Independente
João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Martin Luther King: Racismo e luta de classes

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

A história de Martin Luther King Jr e da luta antirracista que liderou precisa ser conhecida de maneira correta, sem os objetivos ideológicos da narrativa conservadora dominante.Ele foi assassinado em 4 de abril de 1968 (há 50 anos), quando estava em Memphis (Tennesse), apoiando a greve dos trabalhadores em saneamento, que em sua maioria eram negros.

A luta antirracista ocorria nos EUA, desde pelo menos a década de 1940 e a Segunda Grande Guerra, junto com a luta operária.

A histórica Marcha a Washington, em 1963, liderada por Martin Luther King, teve a participação de mais de 200 mil pessoas na capital dos EUA, e se multiplicou por outras cidades do país.

Em Washington, Martin Luther King proferiu o famoso discurso Eu tenho um sonho, por liberdade, igualdade e pelo fim do racismo.

A narrativa conservadora dominante sonega a informação de que os sindicatos de trabalhadores participaram intensamente na organização e financiamento daquele evento. Uma dessas organizações operárias foi o sindicato dos trabalhadores na indústria automobilística – o UAW (United Automobile Workers). Os sindicalistas estavam ao lado de Martin Luther King na Marcha.

Lá estavam o secretário geral, socialista e branco, Walter Reuther (do UAW). E Asa Philip Randolph, o sindicalista negro mais conhecido nos EUA, do sindicato dos ferroviários. Calcula-se que um terço dos participantes da Marcha de Washington (e das outras que ocorreram nas cidades dos EUA) fossem brancos, entre eles muitos sindicalistas e membros de partidos de esquerda, como o Partido Comunista dos EUA. A palavra de ordem principal da Marcha era “liberdade, justiça e trabalho” – uma veemente demonstração do caráter classista e antirracista daquela Macha.

Na década de 60, a denúncia do racismo era parte importante da luta de classes nos EUA. Essa luta cresceu desde a Segunda Grande Guerra, adquirindo os novos contornos do anti-racismo e do anti-machismo, que cresciam desde então. E ganhava intensidade crescente. Em 1943 houve nos EUA cerca de 242 motins raciais, em 47 cidades, entre elas Detroit, “onde 34 pessoas (25 negros e nove brancos) morreram e 700 ficaram feridas”, diz o historiador Sean Purdy.

O auge da luta operária e popular ocorreu na década de 1960: em 1963 ocorreram mais de 1.400 manifestações. Em uma única semana houve protestos em 186 cidades, diz Purdy. Entre 1963 e 1968 houve 341 motins raciais, em 265 cidades.

A luta contra o racismo passou para o primeiro plano, nos EUA nas jornadas organizadas por trabalhadores negros e brancos, “num espírito de solidariedade de classe jamais visto desde os anos 30”, diz a escritora Barbara Eherenreich.

A classe operária voltava com força ao cenário político e social, e agora era multicolorida, unindo lado a lado negros e brancos – 1967 ocorrerem 4.595 greves; 1968, 5.045; 1969, 5.700; 1970, 5.600 (envolvendo 3,3 milhões de trabalhadores); 1971, 4.900 (com 3,2 milhões de trabalhadores) (Purdy; 2008).

Algumas greves ficaram famosas, como a da General Electric, que durou de outubro de 1969 a fevereiro de 1970, envolvendo 150 mil trabalhadores. Nesse ano houve protestos de trabalhadores negros em mais de 120 cidades. Em setembro, a greve na General Motors parou 350 mil trabalhadores. Em 1972, outra greve na General Motors em Norwood, Ohio, durou 174 dias; em Gordstown, durou três semanas (Purdy: 2008; SWP: 2008).

A luta antirracista teve inequívoco caráter classista, que o próprio Martin Luther King reconheceu num discurso que pronunciou em defesa dos grevistas de Memphis, duas semanas antes de seu assassinato: “a luta central nos EUA é a luta de classes.”

Era uma luta democrática, pela igualdade, contra o racismo, a guerra do Vietnã, o imperialismo e a exploração capitalista. Era uma luta pela justiça social que exigia a igualdade entre todos os homens e mulheres.

  • Eherenreich, Barbara. O medo da queda – ascensão e crise da classe média. São Paulo, Scritta, 1994
  • Le Blanc, Paul. “Revolutionary Road, Partial Victory: The March on Washington for Jobs and Freedom”. Monthly Review. Sept 2013.
  • Navarro, Vicenç. “O que não se disse sobre Martin Luther King”. Diário Público, 3 de setembro de 2013. In O que não se disse sobre Martin Luther King. Consultado em 30/03/2018
  • Purdy, Sean. “O século americano”. In Leandro Karnal e outros. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo, Contexto, 2008
  • SWP – Socialist Workers Party. The 1930s revivel of US working class struggle. In Socialist Worker On line, órgão do Socialist Workers Party, 16 de agosto de 2008. In The 1930s revival of US working class struggle. Consultado em 20/11/2008.

Texto original em português do Brasil

Receba regularmente a nossa newsletter

Contorne a censura subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -