O empreendedorismo é um fenómeno crescente em todo o mundo, não só pelo facto de a atividade empreendedora contribuir para a criação de emprego, mas também, porque contribui para a sustentabilidade da competitividade da atividade económica de um País. O empreendedorismo está associado a iniciativa, inovação, possibilidade de fazer coisas novas e/ou de maneira diferente, assim como, capacidade de assumir riscos. Face a esta realidade existem inúmeros programas de apoio ao empreendedorismo, concursos de ideias de planos de negócio, oferta de cursos, workshops, seminários e programas na televisão.
O termo empreendedorismo tem origem da expressão francesa entreprendre[1] que significa começar um negócio próprio. Este termo é utilizado no cenário económico para designar o fundador, o qual construiu através dos seus esforços uma empresa, ou entidade que ainda não existia. Segundo (Carloni e Michel,2000), “empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e esforço necessário, assumindo os riscos financeiros, psiológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação económica e pessoal”, outro conceito é o de (Meneses, 2007) afirmando que “empreendedorismo é aprendizado pessoal, que impulsionado pela motivação, criatividade e iniciativa, busca a descoberta vocacional, a perceção de oportunidades e a construção de um projeto de vida ideal”. Outro tema que é abordado juntamente com o empreendedorismo é a Inovação, segundo (Drucker P. F., 1986) “inovação é o instrumento específico do espírito empreendedor, é o ato que contempla os recursos com a nova capacidade de criar riqueza”.
A utilização do termo “empreendedorismo” é atribuída a Richard Cantilon (1755) e a Jean-Baptiste Say (1800), ambos definiram os empreendedores como “pessoas que correm riscos porque investem o seu próprio dinheiro em empreendimentos”.
Mais tarde em 1978, J. Schumpeter associa o empreendedorismo à inovação ao afirmar que “a essência do empreendedorismo está na perceção e aproveitamento de novas oportunidades no âmbito dos negócios; ter sempre que ver com a criação de uma nova forma de recursos nacionais, em que eles sejam deslocados do seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações”. Schumpeter, descreve ainda “o empreendedor como a pessoa responsável pelo processo de destruição criativa, que resulta na criação de novos métodos de produção, novos produtos e novos mercados”.
O conceito de risco foi introduzido em 1970 por Drucker e Knigt, defendendo risco como “capacidade de arriscar é a única via para melhorar o desempenho de um empreendedor, porém os riscos tomados deveriam ser conhecidos e compreendidos, de modo a serem minimizados, assim o planeamento a longo prazo seria essencial, correspondendo a um processo continuo de tomadas de decisão empreendedoras, com o melhor conhecimento possível das duas possibilidades de sucesso futuro, organizando os esforços necessários para atingir os objetivos e desta forma medir os resultados, através de um feedback organizado e contínuo”.
Cada vez mais o empreendedorismo é visto como um meio para fazer avançar as sociedades ao nível da criação de emprego, promoção da criatividade e da inovação, oferecendo também um valioso contributo a nível da responsabilidade social. Portugal necessita de uma verdadeiro impulso empreendedor, em que as escolas e universidades terão um papel fundamental, uma vez que precisamos de ajustar os currículos a uma educação cada vez mais virada para o empreendedorismo, quer ao nível da tomada de risco quer ao nível da aceitação do fracasso como parte do processo.
As vantagens associadas ao empreendedorismo são claras, criação de novas empresas, criação de novos empregos, promoção da competitividade e desenvolvimento de ferramentas de negócio inovadores. Deste modo o empreendedorismo torna-se num forte impulsionador do emprego e do crescimento económico e um fator chave numa economia cada vez mais globalizada e competitiva.
Segundo o estudo da DB Informa, os Portugueses estão mais empreendedores. Em 2013 iniciou-se um ciclo de expansão, em que se destaca 2015 como o melhor ano para o empreendedorismo em Portugal, com o maior número de nascimentos de empresas desde 2007. Entre 2007 e 2016 foram constituídas 347 272 empresas e outras organizações, o que representa uma média anual de cerca de 35 mil.
As sociedades unipessoais ganharam terreno e a dimensão das start-ups diminuiu, passou de 2,6 empregados e 90,2 mil euros de volume de negócio em 2007 para 2,3 empregados e 65 mil euros de volume de negócio em 2015.
Os serviços e o retalho mantêm-se como os setores onde nascem mais empresas. O alojamento e a restauração passaram do 5º lugar para o 3º lugar. A agricultura, pecuária, pesca e caça com 10%, telecomunicações com 7,1% e alojamento e restauração com 4,9%, foram os setores que registaram maior crescimento no número de constituições. Em 2016 as atividades imobiliárias destacaram-se pelo forte crescimento no número de constituições.
Mais de 85% das start-ups nascem em Lisboa, Norte e Centro, tendo a área metropolitana de Lisboa ultrapassado o Norte. Entre 2007 e 2016 as regiões de Lisboa (+1,6%), Alentejo (+1,1%) e Norte (+0,7%) foram as que registaram o maior crescimento.
No que toca à taxa de sobrevivência, esta decresce mais acentuadamente nos primeiros anos de vida. Cerca de dois terços das empresas sobrevivem ao primeiro ano de atividade, mais de metade (53%) ultrapassam o terceiro ano e 42% atingem a idade adulta (5 anos). No oitavo ano de atividade, apenas um terço das empresas se mantêm em atividade.
Quanto ao volume de negócio, ele aumenta em média 139% no primeiro ano, triplica após os dois anos e é cinco vezes maior no oitavo ano. A evolução do número de empregados é menos acelerada, crescendo em média 35% no primeiro ano, duplicando apenas após oito anos de atividade.
O setor das telecomunicações e o das atividades imobiliárias são os setores que contribuem com maior percentagem de start-ups. Nas telecomunicações 14,2% e o das atividades imobiliárias com 13%. O rácio de nascimentos por encerramentos é o mais elevado nas atividades imobiliárias e na agricultura, pecuária pesca e caça, sendo que nas primeiras são constituídas quase cinco empresas por cada uma que encerra (4,9) e nas segundas (4,2) empresas criadas por cada encerramento.
No que diz respeito à criação de emprego, as start-ups criaram quase um quinto (18%) dos novos empregos gerados entre 2007 e 2014 no tecido empresarial. Se acrescentarmos as empresas até aos cinco anos de idade, a percentagem sobe para os 46%.
O interesse no estudo do empreendedorismo e da criação de novas empresas tem aumentado. É notório o esforço e investimento de Governos e Instituições em desenvolver um perfil empreendedor na população, assim como, criar mecanismos de suporte a novas empresas, quer seja, através de linhas de crédito, incubadoras tecnológicas ou espaços coworking, quer seja através de consultoria financiada, ou de eventos para a promoção de redes de negócios. Ao mesmo tempo, tem surgido um crescente interesse académico em explorar o “perfil do empreendedor”. Sobre esta temática foram realizados vários estudos, desde a criação de instrumentos para medir o perfil empreendedor (Sarkar, 2009) passando por medição de intenção empreendedora (Gatewood, Shaver, Powers, & Gatner, 2002), até a avaliações com foco nas questões da empresa (Greatti, 2004), bem como o seu desempenho financeiro (Hindle & Cutting, 2002).
Notas
[1] Definimos entreprendre como sendo commencer à exécuter une action.(Recuperado em 29 de Maio de 2017 de Larousse: entreprendre)
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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90