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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Duke Ellington: De Newport ao firmamento do jazz

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

No início dos anos 50 a carreira de Ellington estava em declínio, com o seu estilo fora de moda e a orquestra sem editora. Embora reconhecido como um dos grandes músicos de jazz, Duke precisava de relançar a sua música e a sua carreira. Por isso, a sua actuação no Festival de Jazz de Newport, a 7 de Julho de 1956, era vista com forte expectativa para reforçar a sua reputação e o apresentar a novas gerações de público.

Duke optou por apresentar “Diminuendo and Crescendo in Blue”, um tema longo de 1937 que resulta da junção de duas partes (“Crescendo” e “Diminuendo”), inicialmente tocadas numa sequência oposta à apresentada em Newport. A novidade estava em que estas partes seriam separadas por um interlúdio interpretado pelo saxofonista Paul Gonsalves. A orquestra atacou em grande estilo a primeira peça (“Diminuendo”), mas a surpresa estava no solo do saxofonista. Com uma maratona de 27 improvisos, Paul Gonsalves deixou a plateia em delírio e assinou uma das actuações mais marcantes da história do jazz.

O concerto teve destaque em todo o mundo e originou uma das cinco únicas reportagens sobre um músico de jazz publicadas na revista Time dedicadas a um músico de jazz. A actuação foi registada e deu origem ao álbum “Ellington at Newport”, produzido por George Avakian e que se tornaria o disco mais vendido da carreira de Ellington. O trabalho foi inicialmente editado pela Columbia Records com protestos dos músicos, mas só em 1999 a gravação original seria editada pela Legacy.

O álbum relançou a carreira de Ellington e esteve na base de um lucrativo contrato com a Columbia, editora discográfica do gigante CBS, que permitiu a estabilidade da orquestra durante alguns anos. “Sweet Thunder” (1957), baseado nas peças e personagens de Shakespeare, e “The Queen’s Suite (1958)”, dedicado à rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha, foram produtos da nova fase que a actuação em Newport abriu, a par com a participação no Monterey Jazz Festival e com uma nova tournée europeia em 1958, em que a orquestra voltou a ser bem-recebida.

No final dos anos 50 Ella Fitzgerald gravou na Verve o álbum “Duke Ellington Songbook”, com Ellington e sua orquestra como banda de suporte. Tratou-se de um reconhecimento à obra de Duke, que se tornou parte do património cultural conhecido como Great American Songbook. Por essa altura Ellington e Strayhorn começam a compor bandas sonoras de filmes, como “Anatomy of a Murder” ou “Paris Blues”. Dos filmes passaram à recriação de grandes obras de literatura, como o romance de Steinbeck “Sweet Thursday”, e de peças de música clássica, como “O Quebra Nozes” de Tchaikovsky e “Peer Gynt” de Grieg.

No início dos anos 60 Ellington gravou com alguns artistas de quem se tornara amigo no passado, como Count Basie, Louis Armstrong, Coleman Hawkins, John Coltrane, Charles Mingus ou Max Roach. Alguns músicos que tinham tocado com a orquestra regressaram, como Lawrence Brown e Cootie Williams. Nesses anos Duke atuava e era aplaudido em todo o mundo, iniciando novos relacionamentos profissionais com músicos estrangeiros, com a vocalista sueca Alice Babs ou o pianista sul-africano Dollar Brand (atualmente conhecido como Abdullah Ibrahim).

Já nos anos 60, e apesar de ter 65 anos, Duke não parava, tendo gravado entre 1965 e 1973 três “Sacred Concerts”, ligando o jazz à liturgia cristã. Ao mesmo tempo mantinha um ritmo elevado de tournées, que inspiraram alguns dos seus últimos trabalhos, como “Far East Suite”, “New Orleans Suite” ou “Latin American Suite”. O seu último concerto foi em 22 de Março de 1973, num pequeno auditório em Sturgis, Michigan. Cerca de dois meses depois, em 24 de Maio de 1974, faleceu em Nova Iorque, vítima de pneumonia e cancro de pulmão.

A discografia de Duke Ellington é imensa, com mais de 200 álbuns editados, entre originais, colectâneas, discos ao vivo, colaborações, bandas sonoras de filmes e obras clássicas. Galardoado com a Légion d’Honneur em França, é membro da Academia Real de Música de Estocolmo, mas só a título póstumo recebeu um Pulitzer que lhe fora negado em 1965. O seu principal legado é a Duke Ellington Orchestra, liderada desde 1996 pelo seu neto Paul Ellington. A orquestra faz anualmente pouco mais de uma dezena de actuações ao vivo. A próxima será a 19 de Maio, no Seoul Jazz Festival. Aproveitem!

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