A pintura decorativa faz parte da Arte
Por ali andou também Neida, igualmente desde os catorze anos, aparentemente a idade iniciática para meter a mão na argila. Porém, assuntos de barro por cozer pareciam não ser com a moça. “Não tinha muito jeito para aquilo nem muita paciência”. Trocou a roda pelos pincéis, onde treina há vinte seis anos apesar de, a tempo inteiro, apenas ter assumido o ofício há dezassete, quando contava vinte e três primaveras. Não é pois caso para admirar que o traço lhe saia de uma só pincelada, que domine a pressão do colorido, que gire a tornetilha com habilidade e afirme que fazer tudo isso “é simples”. “Dois meses, é tempo suficiente para qualquer pessoa ficar a pintar assim”, sorri Neida. O “assim” é pôr pintas, traços curvos e riscas. Permitam-nos as dúvidas mas sessenta dias para risco tão exacto, parece ser avareza de tempo. Facto é que as peças têm os minutos contados nas tornetilhas, que giram ligeiras enquanto os pincéis correm velozes entre o traçado e a tinta.
Tradição mas não em tudo
É ofício de habilidade e de paciência, este de trabalhar barro. Corre mais depressa a roda do que os segundos num relógio. As mãos não param. Enquanto conversa, Rui Santos vai satisfazendo a última encomenda para a Holanda. São 3000 peças manufacturadas. De quando em vez o garrote excede-se no corte e deixa um vazio no lugar do fundo. As mãos não param e a argila cai, para voltar a ser amassada. Na roda, nova peça ganha já forma.
Vários blocos de barro aguardam, à entrada, a sua vez de passarem de quilos de massa rude a frágeis tigelas de vários tamanhos. De cima do cone que gira na roda, elas nascem, dos afagos exactos, pelas mãos húmidas do artífice. O barro já quase não é feito no local. Apenas para peças que se querem mais resistentes, como as que vão ao lume, a ajudar o sabor da gastronomia portuguesa. Para telhas, tijoleira e tijolo burro o barro é também amassado na Patalim. De forma menos expressiva mas de modo a que a tradição não morra. Se houver encomendas, obviamente que os fazem.
Para esses, a argila vem de quintas mais ou menos próximas, ainda em bruto, à espera de amasso, no tanque de água feito no chão, forma resistente de suportar a máquina que vira e revira a argila. A restante massa cor de tijolo chega, já pronta a tornear, da região de Leiria.
“Não compensa amassar barro”, afirma Neida. Até porque uma das quintas onde adquirem a greda virgem mudou de donos e há alguma dificuldade em que os novos proprietários deixem extrair a argila. Além disso, a finura da argamassa em blocos prontos a utilizar, adequa-se melhor às peças para uso doméstico sim mas com uma grande vertente decorativa, que na Olaria Patalim se produzem em grande escala.
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