A tradição do Corval, a caminho do Mundo
Na loja ao lado, entre fotografias que o tempo amareleceu e que nos dizem da história da Patalim, algumas peças para venda, a exemplificar o que se faz na oficina. Nada de excessos, que a produção está maioritariamente tomada, seja para o mercado interno, seja para a exportação. Destinos tão díspares como o Canadá, Inglaterra, Brasil, Tanzânia e Holanda são os principais mercados externos. Em Portugal, alguns dos artigos que se vendem em Lisboa, Portalegre e Algarve, por exemplo, são fabricadas naquela que se mantém uma das olarias mais tradicionais do Corval. Excepção feita à roda de oleiro, que se tornou mecânica, e aos dois fornos a lenha, um de estilo árabe, outro romano, substituídos pelos enormes fornos eléctricos, tudo o mais, desde a modelagem, à pintura e à vidragem, é estritamente artesanal e feito como mandam os preceitos antigos.
Embora possa variar com o tipo e tamanho, não há nenhuma peça que demore mais do que escassos minutos nas mãos dos artesãos, nas suas várias fases. Processo mais demorado o da secagem. “Com tempo de chuva, uma peça pode demorar um mês a secar, dentro de casa”, afirma Rui Santos. Na parede do fundo da oficina, em tábuas onde são colocadas assim que o garrote as separa do cone de barro, centenas de tigelas esperam pelo ponto em que poderão ir ao forno, a uma temperatura que atinge os 1200º. Em dias de estio, vinte e quatro horas são suficientes para deixar as peças prontas para ir ao forno. Depois vem o mergulho no vidrado, a pintura e mais uma cozedura, a altas temperaturas. As cores ganham vida, o vidrado brilho. Estão então prontas a receber, por exemplo, mel, como os potes que as quatro artesãs pintam afincadamente, sem que os seus olhos se desviem do triângulo cujos vértices se situam entre a tinta, a peça e a sua arrumação. A tornetilha, essa nem um olhar merece, tão grande o hábito de a fazer girar.
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