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Domingo, Julho 28, 2024

Ladrões de Bicicleta: O filme

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

Um dos filmes mais marcantes do neorrealista italiano, Ladrões de Bicicleta expõe o drama do desemprego logo após Segunda Guerra Mundial em uma Itália derrotada e em profunda crise econômica. Não há trabalho e o povo está imerso na pobreza.A primeira cena do filme já mostra o contingente de desempregados, amontoados ao redor de um funcionário público, em busca de uma vaga. Os empregos oferecidos exigiam uma qualificação que a maior parte daqueles proletários não tinha. O protagonista, Antonio Ricci, consegue uma das poucas vagas para uma função mais simples: de colador de cartazes. Mas, para isto, precisa de uma bicicleta.

Vemos, nas entrelinhas dessa cena, a ascensão e especialização da indústria metalúrgica, demandando técnicos como torneiro mecânico, e também a ascensão da indústria de entretenimento, já que os cartazes são para a divulgação de eventos culturais.

Ricci tem uma bicicleta, mas ela está empenhada. Maria, sua mulher, decide, então, trocá-la no penhor pelos lençóis do enxoval do casal, tal era o grau de miséria em que viviam. Diante de situações de carência extrema o trabalhador dispõe até de objetos de valor sentimental, como o próprio enxoval, abrindo mão de suas histórias de vida. Com a bicicleta em mãos, eles encontram um passe para a inclusão social. Em todo momento o mundo do trabalho se afirma. Antonio Ricci ao sair, pela manhã, é acompanhado pelo pequeno filho Bruno, de cerca de oito anos, que trabalha como engraxate de rua.

Ocorre que, no exercício de sua função, Ricci tem a bicicleta roubada. Imerso na dor e na angústia pela perda do instrumento de trabalho, ele tenta encontrá-la com a ajuda do filho. Eles vivem, a partir daí, o pesadelo de procurar os pedaços da bicicleta nas feiras de Roma, pois a prática dos ladrões é desmontar o objeto para vender as peças.

Embora seja um homem decente, honesto e trabalhador, tais circunstâncias levam Ricci cometer um ato insano: quando percebe que não conseguirá recompor sua bicicleta, ele caminha com o filho até as proximidades do Estádio Nacional e tenta furtar outra bicicleta. Mas fracassa em sua tentativa desesperada de manter o emprego.

Ao detê-lo, na presença do pequeno Bruno, a polícia sente compaixão e deixa o caso de lado. A tragédia moral se abate sobre ele. Ao perder seu trabalho, sua moral e seus valores, Ricci perde também a si próprio.

O drama de Antonio Ricci é de cunho social.

Exige a ação política e social que transcende o cotidiano de indivíduos. O filme mostra que os “despossuídos”, agindo sozinhos, não conseguem se incluir na vida social. Sozinho, o operário se difunde como mais um na multidão.

(Ladri di Biciclette)

Itália, 1948

Direção: Vittorio De Sica

Elenco: Enzo Staiola, Lamberto Maggiorani, Lianella Carell

 

Texto original em português do Brasil

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