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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Presidenciais Colombianas: Análise à Primeira Volta

João do Vale de Sousa
João do Vale de Sousa
Doutorando em História, Estudos de Segurança e Defesa num programa conjunto ISCTE-IUL/Academia Militar

No domingo, 27 de Maio, os colombianos foram às urnas para escolherem o próximo Presidente, que irá substituir o actual incumbente, Juan Manuel Santos, para o quadriénio de 2018-2022. Tal como as sondagens indicavam nenhum candidato conseguiu ser eleito nesta primeira volta. Será necessário recorrer a uma nova e derradeira ronda para eleger o novo Chefe de Estado e de Governo. Ela irá ocorrer no próximo dia 17 de Junho. Estas são as primeiras eleições presidenciais após a assinatura do histórico Acordo de Paz (AP) com as FARC-EP, que pôs termo a mais de 50 anos de conflito armado.

Dos quase 37 milhões de eleitores inscritos votaram mais de metade (53%), o que num país onde historicamente a indiferença sobre os actos eleitorais é expressiva, tem de ser considerado como positivo. Em relação às Presidenciais anteriores, em 2014, por exemplo, votaram nestas quase mais 6,5 milhões de eleitores. A subida da afluência às urnas já foi verificado nas Legislativas, em Março. A contribuição que o aumento da segurança teve devido à assinatura do AP não deve ser aqui ignorada.

Como esperava-se Iván Duque, com Marta Lucía Ramírez como aspirante a Vice-Presidente, candidatos pelo Centro Democrático (direita), com 39% e 7,5 milhões de votos, e Gustavo Petro, da Colombia Humana (esquerda), acompanhado por Ángela María Robledo, como sua candidata a Vice-Presidente, com 25% e 4,8 milhões de votos, passaram à segunda volta. Devido a este resultado já garantiram, no pior dos cenários, um lugar no Congresso, pois o candidato à presidência derrotado irá desempenhar funções de Senador e a candidata à vice-presidência irá para a Câmara dos Representantes, nos próximos quatro anos.

Os restantes candidatos principais como Sergio Fajardo, da Coalición Colombia (centro-esquerda), com 24% e 4,6 milhões de votos, Germán Vargas Lleras, do Mejor Vargas Lleras (centro-direita), 7% e 1,4 milhões de votos, e Humberto de la Calle, do Partido Liberal (centro), 2% e 400 mil votos, ficaram de fora da contenda.

A candidatura de Fajardo foi a que esteve mais perto de causar surpresa. Aproximou-se de Petro, algo a que as sondagens já vinham a dar mostras que fosse possível suceder, visto o pretendente pela Coalición Colombia ter aparecido a subir nos inquéritos de opinião. Foi ele, também, o único, além dos que seguem para a segunda volta, a vencer um departamento e logo o da capital (Bogotá D. C.).

Germán Vargas Lleras, que tinha prometido que a sua votação poderia superar as expectativas traduzidas pelas sondagens, não viu isso suceder. Talvez porque a sua “maquinaria” eleitoral não conseguiu fazer sentir o seu efeito, como temia-se.

Houve uma ampla presença de observadores nacionais — do Estado, independentes e os próprios cidadãos individuais que quiseram voluntariamente monitorizar o processo — e estrangeiros, da UE, da OEA, entre outros. Donde, até à data, não há relatos de significado ligados a eventuais actos fraudulentos que tenham desvirtuado a verdade das urnas.

Num país castigado por mais de meio século de violência armada é de assinalar que, como previa-se, não houve casos que atrapalhassem significativamente o decurso tranquilo do acto eleitoral. O AP com as FARC-EP também tem um papel muito importante para este resultado. Os ex-integrantes do agora extinto grupo guerrilheiro, além de não terem perturbado o bom desenrolar da jornada eleitoral, tiveram, muitos deles, a oportunidade de participar pela primeira vez na sua vida enquanto votantes na eleição do Presidente da Colômbia. Para este ambiente também terá certamente contribuído o cessar-fogo provisório decretado pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), que cumpriu-o.

Nesta primeira volta a grande vencedora foi, sem sombra de dúvida, a polarização. Os candidatos dos extremos políticos derrotaram os que posicionaram-se mais ao centro, os grandes perdedores. O que isto reflecte é um país profundamente dividido, dando seguimento ao que tinha sido espelhado pelo resultado do Plebiscito ao AP. Para que a reconciliação tenha lugar ainda há um longo e difícil caminho a percorrer.

Para a segunda volta espera-se que Duque consiga recolher os votos dos apoiantes de Vargas Lleras e Petro consiga fazer o mesmo em relação aos que votaram em Fajardo e de la Calle, mantendo ambos o seu eleitorado. Se isto suceder, a vitória irá para o candidato do Centro Democrático, que é o favorito a ser eleito.

Dentro de três semanas os colombianos terão de escolher entre um candidato do status quo e outro que é justamente o oposto. Que optem pelo que ajuízem ser o melhor para guiar aquele país andino nos próximos quatro anos.

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