Não houve comemorações ontem. Ainda bem. Qualquer comemoração, de quem quer que fosse, seria um equívoco. A acrescentar a muitos outros ao longo de décadas fabricados. E de todas as suas peças montados. O “28 de Maio” é, de facto, a data mais mal conhecida de todo o século XX português (apesar de ser a de maiores referências, só ultrapassada pelo 25 de Abril) e a mais oculta em equívocos e outras narrativas “convenientes” (tanto de esquerda como de direita). É incrível como a Universidade portuguesa, em quatro décadas, não teve ainda tempo para ter sido capaz de “deslindar” este assunto…
Sob a presidência do Almirante Mendes Cabeçadas, reunião do Governo saído do golpe de 28 Maio 1926. O General Gomes da Costa está à direita de Cabeçadas e, de braços cruzados, em posição de expectativa, o General Carmona que, a 9 de Julho de 1926, assumiria a presidência até à sua morte em 1951. Salazar sentar-se-ia a esta mesa, pouco depois da reunião documentada na foto, a convite do Presidente Mendes Cabeçadas.
Há um aspecto fascinante neste golpe de Estado. Fascinante para a equipa de Intelnomics, esclareça-se. É que o “28 de Maio” é um golpe em que a guerra de informação desempenhou um papel decisivo e até talvez mais importante que o da própria tropa sublevada. Os “Correios” valeram por vários quartéis… Mas isto é matéria ainda a trabalhar e é cedo para aqui a explanar.
Há também um aspecto bizarro. O golpe está classificado de “fascista”. Ora, o triunvirato que o concebe e organiza é constituído por um (prestigiado mas isolado) general oriundo dos campos de batalha da Flandres e por dois altos quadros republicanos, dirigentes da Maçonaria (um general e o outro almirante) e com vasta experiência política e de governo. O isolado mas prestigiado general perde, numa curta meia-dúzia de semanas todo o seu prestígio e é exilado sob prisão militar para os Açores.
O bizarro da coisa reside no facto de ainda ninguém ter explicado como é que a Maçonaria (republicana até à medula…) faz um golpe “fascista”… Aliás, também nunca ninguém se lembrou de explicar como é que o almirante maçon (e, na altura, dirigente máximo do triunvirato militar) vai pessoalmente a Coimbra buscar um professor que ninguém conhecia, um tal Salazar (que se demitirá, pouco depois, solidário com o almirante, entretanto, caído em desgraça às mãos de outro membro do triunvirato, o general Gomes da Costa). Voltará ao governo, a 27 de Abril de 1928, pela mão de outro maçon e último sobrevivente do triunvirato inicial, o general Óscar Carmona (não deixa de ser curioso e também bizarro que, no 25 de Abril, o máximo responsável operacional tenha escolhido Óscar para nome de código…).
28 de Maio de 1926 é uma data ainda à espera de ver os seus mistérios desvendados… E, consequentemente, todo o nosso século XX está “uma história muito mal contada”.
Exclusivo Tornado / IntelNomics
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