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Domingo, Novembro 24, 2024

Este parte… aquele parte… Hoje despeço-me do António Loja Neves

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Evocação de um amigo.

Poderia aqui evocar o cineclubista, o organizador de festivais, o realizador de cinema, o jornalista, o militante político ou o homem fascinado por Cabo Verde e pela África em geral.

Mas agora que o ANTÓNIO LOJA NEVES nos deixou recordo um episódio dos primeiros tempos de convívio que mantivemos durante mais de quatro décadas. Convívio que o afastamento geográfico não permitiu que fosse tão intenso quanto gostaríamos.

Nos idos de 1976/1977, depois de terem sido impedidos de prosseguir a sua actividade no Cineclube do Porto, os membros da Secção de Formato Reduzido daquele cineclube organizaram algumas sessões no Anfiteatro da Faculdade de Engenharia. E, para fazer uma delas, o Loja Neves lá apanhou o comboio para o Porto. Chegou a Campanhã, com o projector na mão e o “Outubro” de Eisenstein (numa versão em 8 mm) dentro do mesmo saco em que trazia os seus pertences pessoais. Nesse sábado à tarde passou o filme duas vezes. No final dessa maratona, enquanto arrumava o material, perguntou-me: ‘Onde é que posso comprar um ramo de flores?’.  Fui com ele a uma florista e de seguida seguimos para o Hospital (se bem me recordo, o de S. João) visitar a D. Maria Helena Alves Costa (a par do marido, Henrique, figura incontornável da história do Cineclube do Porto), nessa altura já gravemente doente. É verdade, o director interino do ‘Cine Arma’, a revista do Cine Clube Universitário de Lisboa que tinha por lema “por um cinema patriótico, científico e de massas!”, era um revolucionário, um radical, um crítico impiedoso e… um verdadeiro cavalheiro!

Recordo também as inúmeras tardes que passámos “a partir pedra” na elaboração do projecto de Estatutos da Federação. Algumas delas na sede do CCUL na Rua Castilho, em Lisboa.

Lembro-me também que foi o Loja Neves que me apresentou na Figueira da Foz ao Manuel Costa e Silva e o convenceu que eu era um tipo que ele devia convidar para ir aos Encontros de Cinema Documental da Malaposta. E assim, lá estive nas três últimas edições desse saudoso festival em representação do Jornal de Notícias.

E sendo o Loja Neves uma figura intimamente ligada ao cinema documental, esta noite adormeci a pensar numa ficção. Imaginei-o a chegar ao “assento etéreo” e a encontrar-se com o Henrique Alves Costa, o Manuel Campos Pina, o Luís de Pina, o Bénard da Costa,  o Vieira Marques, o Manuel Costa e Silva, o Pedro Bandeira Freire, o Fernando Lopes, o Mário Ventura, a Fernanda Silva, o António Campos, o Fernando Mateus, o Manoel de Oliveira, o Seixas Santos, o Fonseca e Costa, e tantos, tantos outros… Se calhar nem todos capazes de dançar ao som da música cabo-verdeana, e até, de gostos musicais bastante diversificados… Mas que era capaz de ser uma grande farra, lá isso era…

Até sempre, ANTÓNIO LOJA NEVES.

A foto que publico é dos Encontros de Viana de 2009. Nela estão o Loja Neves, o Jorge Campos, o Anxo Santomil e Fernando Mateus (que também já nos deixou).

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