José Sócrates contava que, ao fim de seis meses de prisão, o PS tivesse pedido ao Ministério Público para apresentar as provas que tem contra si, por já ter passado demasiado tempo desde o início da investigação.
Até porque, defende, para já, uma das principais consequências do caso foi a derrota dos socialistas nas eleições. Em entrevista à TVI, o ex-primeiro ministro voltou a mostrar discordância em relação à frase “à política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça”, que António Costa proferiu, referindo-se ao seu processo. Entende que deve haver separação de poderes, mas lembrou que “quem define as regras da Justiça é a Política”. Regras que, no seu caso, diz não terem sido cumpridas.
Pelo contrário, o que viu foi a condução de “uma campanha de denegrimento e difamação pessoal contrária a todas as regras do direito penal”. As acusações contra si são “falsas, injustas e absurdas”, pelo que aquilo que houve foi “um castigo sem crime”. E, ao fim de um ano, “depois de terem passado todos os prazos legais, não apresentaram provas porque é impossível provar aquilo que nunca aconteceu”.
José Sócrates ‘atirou-se’ ao Ministério Público que nem sequer terá investigado as adjudicações feitas pelo seu Governo ao grupo Lena, as quais os investigadores suspeitarão terem estado na origem de eventuais actos de corrupção.
Nas Parcerias Público-Privadas (PPP), diz, o grupo Lena apenas participou em consórcios que ganharam duas das 21 realizadas. E, ainda assim, apenas detinha “num caso, 7,8% e, no outro, 16,25% do capital”. Para além de que as propostas vencedoras eram as mais favoráveis para o interesse público, pois “a diferença para o segundo classificado era de 282 milhões numa PPP e de 202 noutra”. No que se refere às obras adjudicadas pela Parque Escolar, o Grupo Lena “ganhou dez em 250” e, também aqui, por ter apresentado as melhores propostas, em termos de preço.
Para rebater a ideia de que aquele grupo foi beneficiado pelos seus governos, Sócrates fez muitas contas e chegou à conclusão de, que quer os executivos que o antecederam, quer o de Passos Coelho, adjudicaram mais obras ao grupo Lena do que os seus.
Uma “operação de terror”
Ao longo da entrevista insistiu por várias vezes que não havia qualquer razão para ter estado preso e ter sido alvo de uma autêntica “operação de terror”, que, na sua opinião, se desenvolveu desde o princípio, com o “espectáculo” da sua detenção, depois de ter enviado um e-mail e o seu advogado ter telefonado às autoridades, a dizer que ele iria apresentar-se e responder a tudo o que lhe fosse perguntado.
O clima de “intimidação” continuou ao longo de todo o processo, pois “o Ministério Público fez ou deixou fazer uma brutal campanha de difamação contra mim. Houve uma fuga selecionada do processo para criar uma convicção na opinião pública de culpabilidade”. A motivação dos investigadores para agirem da forma que agiram “só pode ser o ódio pessoal”.
Entende que a conclusão que agora o Ministério Público tira desta estratégia é que, já “nem é preciso apresentar acusação”, pois “o mal está feito”. O seu julgamento “já foi feito nos jornais e o PS perdeu as eleições” o que suspeita terem sido os objectivos deste processo. Mas, da sua parte, garante que vai continuar a lutar para que tudo seja esclarecido e para que Joana Marques Vidal, a procuradora-geral da República, e “principal responsável” pelo caso venha dar explicações públicas.
A segunda parte desta entrevista de José Sócrates à TVI será transmitida no Jornal da Noite desta Terça-feira.