José Sócrates critica a estratégia do Partido Socialista de ficar à margem das presidenciais. Caso mantenha a decisão de não apoiar qualquer candidato “estará objectivamente a favorecer Marcelo Rebelo de Sousa”. Apesar de pedir clareza e decisão ao seu partido, a verdade é que ele próprio também se mostra indeciso e assume que “não sei em quem vou votar”. Aquele que, de certeza, não vai contar com o seu apoio é o antigo comentador televisivo, que “tem um discurso tão redondo que impressiona”.
Na segunda parte da entrevista à TVI, hoje transmitida, voltou a atacar o Ministério Público e deixou no ar a acusação de que a investigação de que é alvo tenha tido como objectivo, para além do “ódio pessoal”, evitar que ele próprio fosse candidato a estas presidenciais. Algo que “nunca me passou pela cabeça”.
Uma das questões centrais do processo é a suspeita de que o empresário Carlos Santos Silva seja um testa-de-ferro, que teria em seu nome, na Suíça, contas bancárias no valor de 23 milhões de euros que, realmente, pertencerão a José Sócrates. Algo que o ex-Primeiro-Ministro diz não fazer qualquer sentido. Garante que não há qualquer documento que o indique como titular das contas, nem sequer que o habilite a utilizar o dinheiro. Isto, simplesmente, porque a verba era de Carlos Santos Silva, tal como era sua propriedade um dos apartamentos em que Sócrates viveu quando esteve em Paris.
Para financiar a primeira fase da sua vida na capital francesa, Sócrates diz ter contraído um empréstimo de 120 mil euros à Caixa Geral de Depósitos. Depois, a mãe vendeu um apartamento, exactamente a Carlos Santos Silva, e deu-lhe uma parte do dinheiro, cerca de 400 mil euros. Quando esse dinheiro acabou, e apesar de nessa altura já estar a trabalhar, resolveu pedir um empréstimo ao seu “amigo de há 40 anos”, homem que sabia ser um grande empresário e ter muitas posses. A ideia era, e é, pagar de volta todo o dinheiro. Quando estava preso, vendeu a sua casa e devolveu-lhe “250 mil euros”, mas as contas não ficaram totalmente saldadas. Admite, no entanto, que não sabe, em concreto, quanto é que ainda deve a Carlos Santos Silva. Para isso, precisava de falar com ele, o que não pode fazer, por ordem do tribunal.
Também abordada foi a suspeita de ter beneficiado o empreendimento Vale do Lobo, através da aprovação do Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT) do Algarve. Uma acusação que lhe terá sido feita pelo procurador, no segundo interrogatório, mas que não tem qualquer base. José Sócrates qualificou mesmo tal acusação como “bizarra” e até acusou o magistrado de não saber o que é um PROT, que apenas define um conjunto de orientações gerais que não beneficiam qualquer empresa em particular. Admite que o plano continha uma cláusula de excepção, mas que isso é algo que todos os instrumentos daquele tipo têm. Para além de que, garante, o empreendimento Vale do Lobo não a utilizou.
Outro alvo da entrevista foi o Correio da Manhã (CM) que acusou de não estar a perseguir o interesse público, mas apenas a querer ganhar dinheiro (através do aumento das vendas) ao fazer sucessivas notícias sobre o seu processo. Acusou o jornal de, para o efeito, proceder a “violações sistemáticas do segredo de justiça, o que é gravíssimo”. Quer o CM quer quem lhe passa as informações estão a “cometer um crime” e a envolver-se em “tráfico, comércio e corrupção”.