Os activistas angolanos, que estão a ser julgados por “actos preparatórios de rebelião” contra o Presidente José Eduardo dos Santos, já iniciaram nova greve de fome e um deles tentou o suicídio.
Sedrick de Carvalho, jornalista do Folha 8, tentou ontem matar-se no Hospital-Prisão de São Paulo, revelando que passou mais de duas mil horas detido sem ver a luz do sol. Antecipadamente, o jovem de 26 anos escreveu uma carta com a ameaça, na qual alega existir uma estratégia deliberada, por parte das autoridades governamentais, de infligirem tortura psicológica aos “presos políticos”.
No documento de três páginas dirigido à sociedade angolana, serviços prisionais, Tribunal de Luanda, imprensa e família, o jornalista detido a 20 de Junho com mais 14 activistas, denuncia “as torturas” a que o grupo tem sido submetido e explica as razões que o levam a recusar alimentação, água e visitas.
“ (…) Proíbo que me tragam alimentação (incluindo água), pelo que anuncio estar em clara, e efectivamente outra vez, greve de fome. (…) Ao finalizar, informo que entrei em paralisação completa, mas caso me decida nos próximos dias, optarei pelo suicídio”, escreveu Sedrick Carvalho, no último domingo.
“Por negar-me a sair da cela (onde certamente morrerei nos próximos dias), autorizo e recomendo ao juiz Januário Domingos que me condene já, mesmo sendo eu inocente, pois não acredito em decisão contrária em Ditadura,” escreveu o jornalista Sedrick de Carvalho que tentou ontem o suicídio
O jornalista diz ser alvo de “constantes abusos e violações de direitos humanos que se registam há seis meses” e acusa as autoridades de pretenderem provocar o seu desequilíbrio mental, “com práticas de torturas milimetricamente orientadas”.
Debate sobre direitos humanos, hoje, em Lisboa
Na quinta semana de julgamento alguns dos detidos continuam em greve de fome, incluindo, novamente, Luaty Beirão. Acusados de tentativa de rebelião contra o Presidente de Angola, os jovens têm apontado inúmeras irregularidades no julgamento que consideram ser de “natureza teatral”, e disseram “ter pressa” na condenação, “ mesmo sabendo que injustamente”.
Na semana passada, em carta aberta enviada a José Eduardo dos Santos queixaram-se da interferência do presidente de Angola no poder judicial, alegando que a intenção é prolongar indefinidamente o interrogatório.
Recorde-se que nos últimos meses, a comunidade internacional e várias organizações de defesa dos direitos humanos têm apelado à libertação dos 15 jovens que se encontram em prisão preventiva. Por outro lado, o Governo de Luanda tem rejeitado sempre aquilo que diz ser “uma pressão” e “ingerência estrangeira” nos assuntos internos.
O processo que envolve 17 pessoas, incluindo duas jovens em liberdade provisória, ganhou proporções internacionais depois de o “rapper” luso-angolano Luaty Beirão ter realizado uma greve de fome durante 36 dias, para denunciar o que dizia ser o excesso e as arbitrariedades da prisão preventiva.
Hoje, Terça-Feira, a investigadora da Amnistia Internacional (AI), Sílvia Norte, esteve presente na LX Factory para um debate sobre a situação de direitos humanos em Angola, onde esteve também António Pedro Dores, sociólogo do ISCTE. O evento contou ainda com uma exposição que reúne obras de diversos artistas plásticos destinada a apoiar a causa dos activistas angolanos. Todos os lucros revertem para as famílias dos jovens, e “para que eles possam continuar a sua luta assim que saírem em liberdade”, declara a AI .
[…] Em causa está o processo contra uma alegada conspiração contra o presidente angolano José Eduardo dos Santos. O caso ganhou dimensões internacionais quando Luaty Beirão, rapper e um dos arguidos, decidiu fazer greve de fome durante 36 dias contra a sua prisão. Na última semana, mais três activistas declararam greve de fome e um outro tentou mesmo o suicídi…. […]