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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Vitória da verdade e da democracia

O julgamento de terça (19) na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal foi de enorme relevância para o restabelecimento do estado de direito no Brasil. Fui julgada e absolvida, por unanimidade, das falsas acusações que me imputaram. Mas foi principalmente um avanço em direção à normalidade democrática, frente à maquina de perseguição e arbítrio instalada desde 2014 na Vara Federal da Lava Jato.

Creio que pela primeira vez, diante de um caso concreto, o STF se pronunciou colegiadamente contra a indústria das delações premiadas e contra os abusos do Ministério Público da Lava Jato. A denúncia ruiu perante os juízes porque não trazia prova de nada, apenas delações negociadas com presos condenados, em troca de perdão de seus crimes.

No meu caso e do meu marido, Paulo Bernardo, eram delações contraditórias, que foram sendo modificadas no curso do processo para compor a narrativa perseguida pelos promotores. O julgamento expôs as sucessivas violações praticadas em Curitiba, e endossadas pela PGR, que não poderiam ser aceitas à luz da lei e da justiça.

Dos cinco votos proferidos restou claro que ninguém, nenhum cidadão ou cidadã, pode ser condenado apenas com base em depoimentos (negociados sabe-se lá a que preço) que não sejam acompanhados de provas. Dessa forma, o direito prevaleceu sobre o arbítrio, a verdade sobre a mentira, quando íamos nos habituamos ao contrário.

Durante quase quatro anos, desde outubro de 2014, a Rede Globo e os grandes jornais repetiram sistematicamente que eu era acusada de corrupção e lavagem de dinheiro, repetiram o enredo forjado pela Lava Jato. E nunca, até a véspera do julgamento, nunca informaram os argumentos concretos da minha defesa. Nem uma só palavra.

É o mesmo método autoritário de julgamento midiático, de acobertamento da injustiça, que levou à prisão ilegal e arbitrária do maior líder político e popular do Brasil, o ex-presidente Lula. É o método que levou ao golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Ao longo desses quase quatro anos, meu nome deixou de ser Gleisi Helena Hoffmann. Passei a ser chamada de Gleisi Hoffmann, investigada na Lava Jato, Gleisi acusada, Gleisi indiciada, Gleisi denunciada, Gleisi ré. Alguém escreverá agora Gleisi inocente?

Já disse que nada vai apagar o sofrimento causado a mim, a minha família, meus amigos e companheiros de luta. Nada vai reparar o dano causado a minha imagem pessoal e política. Mas a decisão de ontem me anima a continuar acreditando que, quando se julga com base no direito, na lei e nos autos, a verdade sempre vence.

Agradeço a todos os que foram solidários ao longo desse processo: a imprensa independente, os juristas que se pronunciaram em artigos, líderes políticos de vários partidos e principalmente a militância do PT, que sempre me deu energias para seguir lutando de cabeça erguida.

Há outras batalhas pela frente e vamos enfrentá-las, confiando que o Brasil vai retomar o estado de direito na plenitude. E vai retomar o caminho da democracia para acabar com o sofrimento do povo.

 

Por Gleisi Hoffmann, Senadora e presidenta nacional do PT | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

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