Mais de 50 anos depois, as elites americanas trocam o modelo golpe de Estado militar pelo de golpe de Estado sob comando dos juízes em toda a América Latina. A Lava Jato torna-se uma diretriz continental, sob orientação dos EUA, como foi a Operação Condor nos anos de 1980; Brasil, Paraguai, Argentina, Equador e México são os alvos até o momento.
50 anos depois da onda dos golpes militares e das ditaduras abertas na América Latina para sufocar os governos e líderes de esquerda na região, as elites da região criaram um novo modelo que se espalha: a Lava Jato. Em vez de militares, juízes, em muitos casos com apoio de parlamentos e executivos controlados pela direita. Da mesma maneira que no caso dos golpes militares, a “tecnologia” desenvolveu-se no Brasil (1964), com um pequeno ensaio no Paraguai (1954), e foi usada na Bolívia (1964), Peru (1968), Equador (1972), Chile e Uruguai (1973), Argentina (1966 e 1976) e em toda a América Central.
Repete-se o cenário, com o modelo Lava Jato: Brasil (2014), Argentina (2016) e Equador (2018). Os alvos são as maiores lideranças de esquerda nestes países: Lula, Dilma, Cristina Kirchner e Rafael Correa. Como no caso dos golpes militares, houve um ensaio prévio no Paraguai, com o golpe contra o presidente Fernando Lugo em 2012. Da mesma maneira que a Operação Condor, uma articulação político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul sob o comando operacional do Brasil e a coordenação da CIA dos Estados Unidos, a Operação Lava Jato na região acontece sob a liderança do Brasil e a coordenação dos Estados Unidos, com uma intensa troca de informações e contatos entre os juízes, promotores e procuradores dos países da região com instituições públicas e privadas norte-americanas.
Um caso pouco conhecido no Brasil é o do presidente eleito do México, vitorioso no último domingo, López Obrador, sofreu um processo similar entre 2004 e 2005, quando era prefeito da Cidade do México, um cargo que tem importância estratégica no país. O então prefeito sofreu uma acusação ao estilo “pedaladas fiscais” quando tentaram derrubá-lo. A acusação foi a de violar uma ordem judicial que exigia a suspensão da construção de uma rua em um terreno expropriado anos antes, por governos anteriores. Embora as obras tenham sido suspensas, alegou-se que o cumprimento da ordem havia sido dilatório e López Obrador era diretamente responsável por ela -a similaridade com o processo de Dilma é espantosa. Tentaram retirar-lhe o foro a que tinha direito como prefeito para levá-lo a processo na Justiça Comum (como no caso da Lava Jato), o que de fato aconteceu, mas diante das manifestações populares em protesto o então presidente de direita, Vicente Fox, recuou e o caso acabou encerrado, com a vitória de Obrador e dos democratas mexicanos. Leia sobre o caso em El desafuero, doce meses que marcaron la cronología del caos (La jornada) e aqui.
Leia, a seguir, o artigo do jornalista Fernando Brito, do Tijolaço, sobre o assunto:
A ordem de prisão contra o ex-presidente Rafael Correa, do Equador, é o novo capítulo das farsas judiciais que são uma versão “reciclada” da onda de golpes militares com que, nos anos 60 e 70, a direita conseguiu reempalmar o poder numa América Latina que já não podia ser contida por governos oligárquicos.
O motivo, claro, oscila entre o fantástico e o pueril. Seria uma ordem de “sequestro” dada por Correa contra um opositor, apontado como “mentor intelectual” de uma rocambolesca tentativa (frustrada) de um equatoriano que fazia parte do círculo do ex-presidente colombiano – e arqui-inimigo de Correa – Álvaro Uribe.
Evidente que não tem lógica pensar que um presidente com prestígio político para reeleger-se, vencer plebiscitos e eleger seu sucessor – embora este já se tenha bandeado de lado – iria meter-se numa aventura com áreas de pastelão policial.
Como é absurdo que Correa, tendo se apresentado no consulado equatoriano na Bélgica, onde está, para cumprir a ordem judicial de apresentar-se às autoridades, ser considerado “foragido” e ter a prisão pedida à Interpol.
Mas tem toda a lógica observar como o Poder Judiciário, em toda América do Sul, está sendo transformado no instrumento de destruição das lideranças que, eleitas, se forjaram como ferramentas de afirmação de suas nações.
Exatamente, como foram há 40 anos, as ditaduras militares no continente.
Cristina Kirchner, Lula, agora Correa, não são enfrentados na política e nas urnas, mas no juízo dos tribunais, habitados pela mesma elite que jamais se conformou com a inclusão das massas na existência nacional.
No nosso caso, em aceitar que o Brasil tem 210 milhões de habitantes, não 50 ou 60 milhões que “existem”.
Alguém, no Facebook, falou em “Plano Condor 2.0″ referindo-se às ações militares e policiais para exterminar as lideranças progressistas da América Latina, e não sem razão.
Afinal, porém, só conseguirão, como aquelas, retardar o tempo, jamais fazê-lo parar ou retroceder.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Brasil247 (com Tijolaço)/ Tornado
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